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Editorial

Os números do Pisa e a “tragédia” na educação

O pior desempenho do Brasil no Pisa 2018 foi em Matemática. (Foto: Aleksandar Milosevic/Free Images)

A divulgação dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), costuma ser sinônimo de decepção para o Brasil. Desta vez não foi diferente. Considerando os resultados da prova aplicada em 2018, os 17,5 mil brasileiros que participaram do exame deixaram o país em 57.º lugar em leitura, 66.ª colocação em Ciências e 70.º lugar em Matemática, entre 79 nações avaliadas. A palavra usada pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, para descrever o resultado foi “tragédia” – o mesmíssimo termo usado em 2016 por seu antecessor, Mendonça Filho, quando vieram os números do Pisa de 2015.

O que os números significam, na prática? Eles mostram que, na média, o aluno brasileiro de 15 anos – a idade daqueles que fazem o Pisa – desconhece o básico. Em leitura, apenas 2% dos estudantes, ao ler um texto, sabem diferenciar uma afirmação factual de uma opinião. Pouco mais de um quarto dos alunos consegue compreender o significado de frases curtas. Em Matemática, quase sete em cada dez estudantes estão no pior nível de proficiência, sendo incapazes de realizar algumas tarefas básicas que envolvem números e operações aritméticas. Em Ciências, nenhum aluno brasileiro chegou ao nível máximo de proficiência, e apenas 0,8% dos estudantes atingiram o segundo melhor nível – enquanto isso, 55% deles ficaram abaixo do nível 2, demonstrando também desconhecimento de fatos científicos básicos. Não é à toa que vários outros indicadores mostram que há brasileiros chegando à universidade em estado de analfabetismo funcional.

Jovens que ignoram o básico em leitura, ciências e matemática estão condenados a uma vida de empregos mais básicos, de menor remuneração

A ignorância em tarefas básicas de interpretação de texto e operações matemáticas, especialmente, permite desenhar um quadro desesperador para o mundo do trabalho. Sem esses conhecimentos básicos, boa parte dos brasileiros que em alguns anos estarão à procura de emprego será incapaz de preencher vagas que exijam um nível médio de habilidade – e nem estamos nos referindo a postos com requerimentos mais altos –, condenando esses jovens a uma vida de empregos mais básicos, de menor remuneração, muito longe de poder assumir o protagonismo no novo cenário criado pela Quarta Revolução Industrial.

O resultado brasileiro, no entanto, é bastante heterogêneo, reflexo da desigualdade social e das diferenças entre as redes de ensino. A média dos estudantes de alta renda foi 97 pontos maior que a dos de baixa renda. Entre os países da OCDE, esta diferença é de 89 pontos – olhando por esse ângulo, a situação não parece tão grave. Mas, enquanto essa disparidade se manteve estável dentro da OCDE ao longo dos últimos dez anos, no Brasil ela subiu, pois em 2009 ela era de 84 pontos. Quando são analisados apenas os resultados dos 12 institutos federais e de um colégio militar que participaram do Pisa, eles deixariam o Brasil empatado com a Austrália em leitura, com a Croácia em Ciências e com Portugal em Matemática, segundo o Ministério da Educação. Levantamento do jornal O Estado de S.Paulo mostrou que as notas das escolas particulares de elite colocariam o Brasil no quinto lugar geral em leitura, posição ocupada pela Estônia, o melhor país europeu.

Weintraub também fez questão de associar o resultado do Pisa à gestão do Partido dos Trabalhadores, já que os estudantes que fizeram a prova passaram praticamente toda a sua vida escolar com o partido no Planalto. É uma afirmação que precisa ser lida com cuidado, pois, ainda que seja evidente a existência de uma certa ideologização no ensino, também é verdade que as escolas onde estudam ou estudaram a maioria dos alunos do Pisa são de responsabilidade de municípios e estados cuja gestão não necessariamente foi de governos de esquerda. Mais importante que buscar culpados é encontrar as razões estruturais para as deficiências do ensino brasileiro, especialmente na rede pública. Muitas delas são conhecidas, desde a desvalorização do professor até questões de disciplina. Enfrentar esses problemas de frente é a chave para que, no fim de 2022, quando forem apresentados os resultados da prova aplicada em 2021, o Brasil possa mostrar melhoria.

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