Com os preços dos combustíveis ainda bastante elevados, com todas as consequências que isso tem para o custo de vida, chega a ser compreensível que o brasileiro se mostre favorável a algum tipo de intervenção do governo federal na Petrobras para forçar uma redução nos valores pagos na bomba. Um levantamento do PoderData mostrou que 67% dos entrevistados defendem a canetada, enquanto 26% se opõem – ainda mais compreensivelmente, os mais pobres são os que mais apoiam a intervenção, com 77%, já que eles são os que menos têm como se defender dos preços altos, mesmo quando não têm veículo próprio, já que combustível caro tem reflexos sobre o preço de todos os produtos e serviços que dependem do transporte rodoviário.
No entanto, “intervenção” é palavra que, a julgar pelo discurso do novo presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, não está no horizonte. “O presidente Bolsonaro não me pediu absolutamente nada específico. Só pediu para eu conduzir a companhia”, afirmou o executivo em entrevista recente ao jornal O Estado de S.Paulo, acrescentando que “nós acreditamos que o preço de mercado deve ser praticado por vários motivos (...) só a prática de preços de mercado leva à concorrência e essa maior concorrência gera uma série de benefícios para a população”. Coelho ainda acrescentou que “o presidente já entendeu muito bem a questão de preço de mercado”, embora ele ainda não tenha passado pelo teste de fogo de autorizar grandes reajustes como o de março deste ano, que gerou cobrança pública da parte de Bolsonaro e, no fim das contas, custou a cabeça do general Joaquim Silva e Luna.
A liberdade para administrar a Petrobras como mandam as boas práticas de gestão, sem intervenções populistas, é o melhor para a empresa e para o país
Para a sorte de Coelho, o vaivém recente dos preços internacionais do petróleo constitui mais volatilidade que tendência definida, o que poupa a Petrobras de anunciar novos reajustes significativos no futuro próximo. “O preço do [petróleo] Brent vai a US$ 130, depois abaixa para US$ 100, fica altamente volátil e o câmbio também está volátil”, afirmou o executivo. Em um cenário incerto como este, de fato não faz sentido repassar toda a volatilidade para o consumidor; a empresa pode absorver os efeitos da flutuação no curto prazo enquanto não há a consolidação dos preços em um patamar mais previsível. “Nós acompanhamos tudo isso e, no momento certo, fazemos o reajuste. E, quando falo preço de mercado, as pessoas entendem como preço elevado, mas não é isso, pode ser mais baixo e pode ser maior, pode cair ou pode subir”, diz Coelho, lembrando que as consequências do ataque russo à Ucrânia e os novos lockdowns impostos pela China em suas grandes cidades ainda devem fazer o preço do petróleo oscilar muito.
A liberdade para administrar a Petrobras como mandam as boas práticas de gestão, sem intervenções populistas, é o melhor para a empresa e para o país. A estatal já passou por um período recente em que a canetada prevaleceu sobre as políticas de mercado: foi no fim do primeiro mandato de Dilma Rousseff, quando a empresa represou artificialmente os preços dos combustíveis para que a inflação não subisse demais a ponto de comprometer a reeleição de Dilma em 2014. O prejuízo bilionário decorrente dessa prática foi somado ao custo da corrupção do golpe petista para se perpetuar no poder e ao de outras decisões desastrosas, seja de negócio (como na refinaria de Pasadena) ou movidas por camaradagem ideológica (como a ideia da refinaria Abreu e Lima, que acabou em calote venezuelano). A memória da catástrofe recente não impede populistas como Lula de tentar lucrar com a insatisfação popular, prometendo repetir a dose e sacrificar mais uma vez a saúde financeira da Petrobras.
Coelho afirmou que um de seus principais desafios está na área da comunicação. “A população tem de entender que, da mesma maneira que o pãozinho aumenta, o óleo de soja bateu quase R$ 16 o litro, o tomate e a cenoura nem se fala, assim é o petróleo”, disse. Mas, ainda que a Petrobras seja capaz mostrar ao brasileiro como o preço do combustível é definido, de forma correta e simples, a população seguirá aflita se a gasolina, o etanol e o diesel seguirem caros. Não basta apenas explicar a origem dos preços, nem que para reduzi-los o caminho não é o da intervenção; será preciso, também, agir para permitir que o preço caia naturalmente: ajuste fiscal para fortalecimento da moeda, reforma tributária que desonere a produção e o consumo, abertura do mercado de petróleo para novos players em todas as etapas. Mas esse roteiro não depende apenas da Petrobras.