Em um mundo globalizado, a chance de um país subdesenvolvido conseguir expressivo crescimento econômico e algum sucesso no combate à pobreza depende de políticas públicas e estratégias consideradas boas, eficientes e capazes de alavancar investimentos, negócios, empregos, tecnologias e produtividade. Como é limitada a capacidade interna de poupança nacional, capital financeiro e empreendedores com recursos para bancar investimentos e negócios, a política externa do país exerce papel decisivo no desempenho econômico e nas taxas de crescimento, no mínimo por duas razões.
A primeira razão é a necessidade de o país absorver as tecnologias modernas desenvolvidas no resto do mundo, em face da baixa criação de tecnologia nacional e da velocidade em que surgem tecnologias avançadas em várias partes do mundo. A segunda é o fato de a atualização tecnológica robusta e rápida do parque produtivo local somente ser possível pela importação de máquinas, equipamentos e processos produtivos que só ingressam no país se junto vierem investimentos estrangeiros diretos, aqueles que se instalam em território nacional em forma de empresas estrangeiras.
Assim, na estruturação da política externa, o país deve se perguntar onde estão os elementos essenciais – empreendedores, capital financeiro, tecnologias, máquinas, equipamentos e empresas multinacionais – com os quais a economia interna precisa contar para caminhar rumo ao crescimento econômico. Não resta dúvida de que uma política externa inteligente é aquela que construa boas relações diplomáticas, comércio bilateral e acordos de transferência de tecnologia com os países que podem oferecer esses fatores ao Brasil. Nações como Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido, França, Países Baixos, Suécia, Japão, China e Coreia do Sul – entre outros, é claro – são lugares que têm as condições para relacionamento vantajoso ao Brasil e com os quais a diplomacia nacional deveria se relacionar em alto nível de seriedade, confiança, constância, cumprimento de acordos e convergência de regime político e sistema econômico.
Neste primeiro ano do terceiro mandato de Lula como presidente da República, o Brasil já esnobou a OCDE e conseguiu arranhar as relações até com os Estados Unidos, antigo parceiro comercial e maior potência econômica mundial
É de se notar que praticamente todos os países desenvolvidos são estruturados sob economia livre de mercado e democracia política. O direcionamento da política externa brasileira rumo a nações onde estão o capital, a tecnologia e os modernos bens de capital físico não exclui nem impede relações com países pobres e modestos, como é o caso dos falantes da língua portuguesa, desde que isso não se dê em detrimento das relações com as economias desenvolvidas, que não se passe a hostilizar as nações ricas, e que o Brasil não dê a impressão de estar se inclinando para a redução das liberdades econômicas e para o enfraquecimento da democracia.
A diplomacia é um campo de ação e movimentos altamente sensíveis, no qual qualquer sinal na direção errada faz que o país comece a ser visto como ameaça aos pilares da liberdade econômica e das liberdades democráticas. Nessa linha, há duas estratégias que isoladamente são altamente negativas e prejudiciais ao Brasil e, se exercidas simultaneamente, acabam por boicotar seriamente as boas relações externas e prejudicam o progresso brasileiro.
A primeira estratégia errada do governo brasileiro é andar pelo mundo estabelecendo relações íntimas com ditaduras repressoras, violentas, corruptas, atrasadas e marcadas por desrespeito aos direitos humanos; a segunda é dar prioridade a acordos com essas ditaduras, as quais, além do regime político de terror, são nações pobres e atrasadas. Notoriamente, o presidente Lula e seus assessores vêm se dedicando a apoiar e bajular ditaduras repressoras, como Venezuela e Nicarágua; o resultado disso é fazer o Brasil ser malvisto no exterior e rejeitado por líderes das nações desenvolvidas, como Estados Unidos e alguns países da União Europeia.
Nas gestões petistas anteriores, o Brasil já havia cometido o erro de se afastar dos países desenvolvidos e não participar de importantes acordos internacionais. Neste primeiro ano do terceiro mandato de Lula como presidente da República, o Brasil já esnobou a OCDE e conseguiu arranhar as relações até com os Estados Unidos, antigo parceiro comercial e maior potência econômica mundial, e isso em um momento no qual o Partido Democrata, considerado a esquerda norte-americana, está no governo, com o presidente Joe Biden. Há duas ações que o Brasil deveria desenvolver para acelerar o crescimento econômico e elevar a renda por habitante. Uma é ampliar a atração de investimento estrangeiro direto, e a outra é elevar a importação de tecnologias de ponta, vitais para a modernização da estrutura produtiva nacional.
O desafio brasileiro de aumentar a produtividade média da economia (quantidade de produto por hora de trabalho), elevar a renda por habitante e diminuir as desigualdades requer expansão do estoque de capital, sobretudo a infraestrutura física, incorporação rápida de tecnologias modernas, reformulação do setor secundário (indústria de transformação, que está com produtividade baixa) e criação de um ambiente de confiança e segurança jurídica a fim de atrair investimentos nacionais e estrangeiros. Infelizmente, a política externa não está desempenhando papel favorável e, de certa forma, o governo e o presidente da República não vêm sendo cobrados para evitar que tenham razão aqueles que, anos atrás, afirmaram que o país é um “anão diplomático”.