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 | Rafael Neddermeyer/USP Imagens/Fotos Públicas
| Foto: Rafael Neddermeyer/USP Imagens/Fotos Públicas

Pela segunda reunião seguida, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 6,50%. Mas, desta vez, o comunicado veio sem uma recomendação para a próxima reunião, que ocorrerá em agosto. Em março deste ano, quando baixou a Selic para o nível atual, o Copom afirmou que, “para a próxima reunião, o comitê vê, neste momento, como apropriada uma flexibilização monetária moderada adicional”. Mas o cenário mudou e, em abril, o Copom manteve os juros em 6,5%, afirmando que, “para as próximas reuniões, o comitê vê como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente”. Desta vez, não houve nenhuma referência às próximas reuniões, o que levantou a dúvida: a porta estaria aberta para os juros voltarem a subir?

O comunicado não permite tirar essa conclusão, afirmando apenas que “os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”. As reformas, tão essenciais para o fortalecimento da economia brasileira e repetidamente solicitadas pelo Copom, não virão neste ano, e a próxima reunião do comitê ocorrerá em 31 de julho e 1.º de agosto, exatamente no meio do período de convenções partidárias, que oficializarão as candidaturas à Presidência da República, além de outros cargos.

As reformas, tão essenciais para o fortalecimento da economia brasileira não virão neste ano

O panorama eleitoral ainda não estará completamente desenhado, e restarão incógnitas – por exemplo, se o PT realmente inscreverá Lula para disputar a Presidência, apesar de a condenação em segunda instância por corrupção tê-lo tornado inelegível. Mas já será possível ter uma ideia melhor da viabilidade das candidaturas mais comprometidas com as reformas, especialmente a da Previdência. Se até lá, faltando pouco mais de dois meses para as eleições, os líderes das pesquisas de opinião forem candidatos populistas, dispostos a colocar a perder todo o trabalho feito até agora pela atual equipe econômica, será bem mais complicado para o Copom manter a Selic nos atuais 6,5%.

O comitê não poderia ter deixado de citar as consequências da greve dos caminhoneiros sobre a atividade econômica. E o Copom diz que a paralisação veio justamente interromper uma retomada que parecia menos cambaleante, pois os “dados referentes ao mês de abril sugerem atividade mais consistente que nos meses anteriores”, mas os “indicadores referentes a maio e, possivelmente, junho deverão refletir os efeitos da referida paralisação”. O Copom identificou um impacto inflacionário que avaliou como “temporário”, embora o impasse em torno do tabelamento do frete ainda possa reservar algumas más surpresas para o consumidor, sempre chamado a arcar com qualquer aumento nos custos para produtores e distribuidores.

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Todos esses fatores, ao lado de mudanças nas taxas de juros nas economias desenvolvidas, que provocam uma corrida em direção à segurança, prejudicando as nações emergentes, indicam que, neste exato momento, as pressões para uma futura alta dos juros são maiores que as perspectivas de uma manutenção da Selic em 6,5%. Se isso realmente ocorrer, a responsabilidade maior será interna: reformas que não foram feitas e, a depender dos resultados das urnas, nunca o serão, além de um governo frágil que cedeu a um movimento que causou vários danos ao país. O país tem a chance de criar as condições para manter as taxas de juros baixas por um período mais longo, beneficiando o investimento e a criação de empregos, mas corre o risco de, mais uma vez, desperdiçar a oportunidade.

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