Pelo menos três das "heranças malditas" deixadas pelos oito anos da administração anterior começam a ser enfrentadas pelo governo Beto Richa: a dragagem e modernização do Porto de Paranaguá; a atração de investimentos empresariais; e a mais polêmica e difícil de todas a questão das altas tarifas do pedágio e a retomada de obras rodoviárias previstas nos contratos originais das concessões. Esses temas, de fato, compõem alguns dos mais fortes gargalos impostos à economia estadual, remanescentes de um período marcado por visões políticas e ideológicas de cunho autoritário e avessas à participação da iniciativa privada no processo de desenvolvimento.
Na última sexta-feira o governador anunciou para breve o início de várias obras vitais no Porto de Paranaguá. A primeira delas, o aprofundamento dos berços de atracação dos navios, que nos últimos tempos vinham sendo obrigados, em razão do assoreamento, a se manter distantes do cais e a servir-se de barcaças intermediárias para as operações de embarque e desembarque uma situação vexatória para o mais importante terminal graneleiro do país e um dos maiores do mundo em movimentação de cargas.
É certo que Richa já encontrou removido o principal obstáculo à realização de tal obra, pois a administração portuária dos últimos meses conseguiu obter a devida licença ambiental, sem a qual nada poderia ser feito. A próxima etapa, segundo anunciou o governador em reunião com operadores e dirigentes portuários, será a dragagem da bacia de evolução, cujo atual calado impede a aproximação de navios de grande porte ou, mesmo médios, com carga completa.
São providências mais do que necessárias, urgentes. O Porto de Paranaguá, degradado em razão da incúria e da irresponsabilidade com que foi administrado ao longo de quase oito anos, vinha se constituindo num dos fatores de prejuízo para a economia paranaense quer pela precariedade das condições que oferecia à navegação, quer, sobretudo, por decisões modernamente tão absurdas quanto aquela de impedir a movimentação de cargas de grãos transgênicos. O somatório dos problemas que acumulou no período resultou em prejuízo da ordem de US$ 1,5 bilhão sem contar o não mensurável desgaste da imagem e da confiança internacional pelo qual passou o nosso porto.
Outra importante notícia gerada na primeira semana do novo governo estadual diz respeito à disposição já demonstrada de buscar investimentos para o Paraná, especialmente na área industrial. Após a fase de grande afluxo de capitais do fim da década de 90, quando se instalaram as montadoras e inúmeras empresas satélites da indústria automobilística, seguiram-se anos de magérrimo interesse da iniciativa privada em investir no estado. Ao contrário, assistiu-se, até, à saída de algumas delas afugentadas pela insegurança jurídica, pelo desrespeito aos compromissos contratuais e pela inexistência de políticas de incentivo.
Da mesma forma, renova-se também o esforço para tornar compatíveis com a realidade econômica as tarifas de pedágio mediante negociações agora talvez plausíveis com as concessionárias. As dificuldades são muitas. As 140 ações judiciais que se movem mutuamente o governo e as administradoras privadas de rodovias são um fator impeditivo para que tais negociações se desenvolvam com a rapidez que seria desejável mas não são insuperáveis se se mantiver clima de boa vontade entre as partes, totalmente inexistente nos últimos anos.
Reside nesses três exemplos a expectativa de que o Paraná esteja inaugurando uma nova etapa de sua história de desenvolvimento muito embora os sinais emitidos até agora sejam tênues e ainda bastante insuficientes para que uma aposta neste sentido seja feita com maior segurança.