| Foto: Odd Andersen/AFP

O terror voltou a atacar na Europa e na Ásia na segunda-feira, com atentados na Turquia e na Alemanha que colocam de volta ao topo das discussões a guerra civil na Síria e a crise de refugiados que buscam na Europa um lugar para recomeçar a vida.

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Em Ancara, capital turca, o embaixador russo no país, Andrey Karlov, morreu após ser baleado pelas costas por Mevlüt Mert Altintas, durante a inauguração de uma exposição fotográfica em um museu. Após acertar Karlov, Altintas gritou “Allahu akhbar” (“Deus é grande”) e “Não se esqueçam de Aleppo, não se esqueçam da Síria”, trazendo para o cenário o complicado xadrez que envolve o país vizinho, destruído por uma guerra civil iniciada há cinco anos.

A relação entre Rússia e Turquia é marcada pelo vaivém. Vladimir Putin e Recep Tayyip Erdogan já realizaram diversos gestos mútuos de amizade, mas outros episódios colocam os dois países como antagonistas, e um deles é justamente a guerra na Síria. A Rússia apoia incondicionalmente o ditador Bashar Assad, enquanto a Turquia está do lado dos rebeldes islamistas que pretendem derrubar o governo. Em novembro de 2015, um caça turco derrubou um avião de combate russo sobre a fronteira entre Turquia e Síria – os turcos alegaram que a aeronave havia invadido seu espaço aéreo e ignorado um aviso.

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Erdogan e Putin foram rápidos em apaziguar ânimos após o assassinato de Karlov

Mesmo assim, Erdogan e Putin foram rápidos em apaziguar ânimos após o assassinato de Karlov. Ambos classificaram o ato como “provocação”, e a Turquia aproveitou para ligar Altintas ao grupo liderado por Fetullah Gülen, clérigo muçulmano que vive nos Estados Unidos e que estaria (sempre segundo o governo turco) por trás de um golpe de Estado em julho deste ano – o golpe falhou e a resposta de Erdogan foi um amplo expurgo nas Forças Armadas, no Judiciário e no serviço público do país, além de uma perseguição feroz à imprensa. Tudo isso faz com que qualquer alegação a respeito do assassino seja recebida com certa desconfiança.

Poucas horas depois, em Berlim, um terrorista usou um caminhão para invadir uma feira de Natal, evento típico realizado em diversas cidades europeias, matando 12 pessoas e ferindo outras dezenas. Entre as vítimas está o verdadeiro motorista do veículo, um polonês morto a tiros e deixado dentro do caminhão.

Impossível não lembrar do atentado de Nice, na França, em julho, quando 86 pessoas morreram atropeladas por um tunisiano em um ato que o Estado Islâmico anunciou como tendo sido realizado por um de seus “soldados”, embora as investigações não tenham estabelecido uma ligação evidente entre o terrorista e o grupo, que poderia ter simplesmente se aproveitado do episódio para uma ação de propaganda – o mesmo anúncio foi feito pelo EI na terça-feira em relação ao ataque de Berlim. Em comum, há a realização dos atentados em datas ou épocas altamente simbólicas: no caso francês, a data da Queda da Bastilha, marco da Revolução Francesa; na Alemanha, a temporada natalina. Mas, ao contrário do que houve em Nice, quando o responsável foi morto pela polícia, o motorista do caminhão de Berlim sobreviveu. Um paquistanês foi preso, mas negou envolvimento e já foi solto, indicando que o verdadeiro terrorista ainda não foi identificado.

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A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que “seria especialmente duro para nós se ficasse confirmado que o autor desses atos é alguém que recebeu asilo e proteção na Alemanha”. O país tem estado na vanguarda da acolhida a refugiados, mas ao mesmo tempo registra episódios como os assédios sexuais em massa do réveillon de 2016. Por mais que a verdadeira identidade e as motivações do terrorista não tenham sido confirmadas até agora, a Europa já se pergunta há tempos qual a melhor maneira de equilibrar a promoção de uma necessária ação humanitária e a vigilância para evitar a infiltração de pessoas que negam e buscam destruir os valores mais caros às sociedades que os acolhem.