O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião ministerial, no Palácio do Planalto.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Lula acha que seus ministros andam muito acabrunhados e pediu-lhes “otimismo” no início de uma reunião ministerial realizada nesta segunda-feira. O presidente da República, recuperado de uma pneumonia que o fez adiar a viagem à China, afirmou que sua equipe não pode “ficar só lamentando” e disse estar “convencido de que o país vai dar um salto de qualidade”. Os comentários foram a reação a uma pesquisa do instituto Datafolha divulgada no fim de semana, e que trouxe números nada confortáveis para Lula.

De acordo com o instituto, a aprovação de Lula ao fim destes primeiros três meses de governo é a menor de todos os mandatos do petista. Do total de entrevistados, 38% consideravam o desempenho de Lula “ótimo” ou “bom” – este índice era de 43% em 2003 e de 48% em 2007. Já a parcela dos que classificaram o governo como “ruim” ou “péssimo” é de 29%, contra meros 10% em 2003 e 14% em 2007. Além disso, o Datafolha mostrou que os entrevistados estão ficando mais céticos quanto aos rumos da economia. É verdade que a parcela dos que acreditam em uma melhora ainda é de 46%, três pontos a menos que em pesquisa idêntica realizada em dezembro, antes da posse de Lula; mas o pessimismo em relação ao futuro subiu seis pontos, de 20% para 26%.

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Em vez de “apostar”, o papel do governo é trabalhar: dar condições para que a economia possa galopar, com liberdade econômica, responsabilidade fiscal, Estado eficiente, tributação racional, sem intervencionismos nem populismos imediatistas

Também, pudera. Depois de uma longa sequência de queda, o desemprego voltou a subir por dois meses consecutivos, embora não se possa descartar de imediato a possibilidade de o mercado de trabalho ter sido influenciado por fatores sazonais típicos do início de ano. A inflação muito provavelmente extrapolará o limite máximo de tolerância da meta traçada para 2023 – será o terceiro ano seguido em que isso ocorre –, e Lula tem voltado todas as suas baterias contra o Banco Central, a única instituição que está batalhando contra a inflação com as armas que tem à disposição. Os aposentados tiveram seu acesso ao crédito severamente reduzido após uma canetada reduzir juros do empréstimo consignado. O presidente já demonstrou sua hostilidade ao empresariado, e o agronegócio se vê às voltas com o recrudescimento do MST e atitudes como a do presidente da Apex, Jorge Viana, que em Pequim associou o setor ao desmatamento na Amazônia. E, a cada dia que passa, fica mais evidente que a regra fiscal proposta pelo governo para substituir o teto de gastos tem problemas sérios, a começar pela garantia de aumento real de despesa governamental independentemente do que acontecer à economia, sem falar na convicção crescente de que as metas propostas pelo governo só poderão ser atingidas à custa de aumento na carga tributária.

“Não concordo com as avaliações negativas da economia”, afirmou Lula a seus ministros, como se a mera opinião presidencial tivesse o condão de inverter indicadores ruins ou de melhorar a economia por mágica, como nas tentativas de forçar uma queda nos juros “porque sim”. Continuando sua tradição de metáforas esportivas, mas abandonando temporariamente o futebol, o presidente ainda justificou a cobrança por otimismo dizendo que “ninguém vai investir em cavalo que não corre”. No entanto, se o cavalo estiver fraco, desnutrido ou com pesos amarrados aos cascos, o jóquei pode gastar toda a sua voz com gritos de incentivo que não conseguirá fazer o animal sair do lugar.

“O nosso papel é apostar que esse país vai dar certo”, completou o presidente, mais uma vez demonstrando sua fé no poder mágico da propaganda. Em vez de apostar, o papel do governo é trabalhar: dar condições para que a economia possa galopar, com liberdade econômica, responsabilidade fiscal, Estado eficiente, tributação racional, sem intervencionismos nem populismos imediatistas. Se este roteiro for seguido, não será preciso pedir otimismo a ninguém, pois ele virá automaticamente. Do contrário, teremos o mais do mesmo petista: a insistência em políticas econômicas comprovadamente desastrosas na esperança vã de que os resultados serão diferentes daqueles do passado, fazendo especialmente os brasileiros mais pobres pagarem as consequências desse pensamento mágico.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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