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A infraestrutura nacional é basicamente estatal, razão por que o drama se agrava, sobretudo se o governo não investir e não deixar o setor privado investir

As enormes filas de caminhões de soja nas estradas de acesso aos portos e os insuportáveis congestionamentos trazem à tona, de novo, a trágica situação da infraestrutura brasileira. Entre os economistas e os analistas de cenários, é cada vez mais forte a crença de que o colapso da infraestrutura impedirá o Brasil de se desenvolver e deixar a condição de país atrasado nos próximos 20 anos. Quando se analisa o ano passado, na prática o gargalo na infraestrutura já começou a frear o crescimento, cuja taxa foi de apenas 0,9%.

A taxa de investimento em 2012 ficou em apenas 18,1% do Produto Interno Bruto (PIB), bem abaixo da taxa de 19,3% em 2011. Os economistas chamam isso de "formação bruta de capital fixo" e significa quanto o país investe em infraestrutura física (portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, usinas de energia, expansão da telefonia, armazenagem etc.), infraestrutura social (escolas, hospitais, habitação, saneamento, creches etc.) e infraestrutura empresarial (prédios, máquinas, equipamentos, móveis e aparelhos de produção).

Em condições normais, estima-se que a taxa de investimento desejada seja de 25% do PIB, para permitir um crescimento de 5% ao ano. O caso brasileiro apresenta um problema adicional: como a infraestrutura está envelhecida, o volume de investimentos necessários somente para recuperar o que já existe anda entre 2% e 4% do PIB. Essa situação, que já não é boa, tem uma agravante séria: dos 18,1% de investimentos de 2012, a parte feita pelo setor público representa pífios 2% do PIB. Os outros 16,1% referem-se a investimentos feitos pelo setor privado.

Esses dados são dramáticos e suficientes para justificar a necessidade de o país pensar urgentemente em alguma prática nova em matéria de gestão macroeconômica, caso se queira tirar a nação da pobreza nos próximos 20 anos. Mas os problemas não param aí. O investimento de apenas 2% do PIB feito pelo governo é ainda pior quando comparado com o tamanho da carga tributária efetivamente arrecadada, que está em 38% do PIB. Há países em que o setor público não investe muito mais que o Brasil como proporção do PIB. Mas sua carga tributária não é tão alta. Tomando o exemplo do Chile: se seu governo investisse somente 2% do PIB, o estrago no crescimento não seria grande, pois a arrecadação tributária lá anda na faixa dos 20% do PIB. Em casos como esse, o setor privado, tributado com carga moderada, assume a dianteira dos investimentos necessários ao crescimento econômico.

No caso brasileiro, a infraestrutura, especialmente física, é basicamente estatal, razão por que o drama se agrava, sobretudo se o governo não investir e não deixar o setor privado investir. É isso o que ocorre com os portos brasileiros: o governo não investe o suficiente há muitos anos e não tem deixado o setor privado participar nos projetos do setor. A presidente Dilma vem tentando abrir espaço para investimentos privados nacionais e estrangeiros, provocando, com isso, a ira de alas do sindicalismo nacional cegas para os graves gargalos do país.

Governar é fazer escolhas. O fato de o país ter escolhido direcionar parte dos gastos públicos para resgatar a dívida social, por meio de programas de transferência de renda aos mais pobres, não é um erro. O problema é que, além dos programas sociais, o governo, nos três níveis da federação, aumentou exageradamente a máquina burocrática, inchou o quadro do funcionalismo, cultivou o desperdício e fez explodir a corrupção. O resultado é que o dinheiro que sobra para investimentos em infraestrutura física e social é ínfimo, muito distante das necessidades da economia nacional.

Seguramente, uma expressiva parcela da população não tem a devida consciência da gravidade da situação e do preço que o país vem pagando em termos de atraso e pobreza. Possivelmente, também uma parcela expressiva dos políticos não conhece a real dimensão do problema; assim, entra ano, sai ano, os dramas continuam sem solução à vista. Bastou o país iniciar a colheita da safra agrícola para que a tragédia das filas, a demora nos portos, os navios parados à espera de carga e descarga e o congestionamento nas estradas iniciassem o espetáculo de horror no qual se transformou a infraestrutura física brasileira. A sociedade tem de dar uma basta na tolerância com esse caos eterno.

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