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Editorial

Padrão Brasil

"Os aeroportos, por exemplo, não têm padrão Fifa, têm padrão Brasil, vocês vão me desculpar. Não estamos fazendo aeroporto só para a Copa, só para a Fifa. Estamos fazendo para os brasileiros." A frase da presidente Dilma Rousseff, dita na semana passada em almoço no qual ela recebeu o apoio formal de mais um partido em sua campanha de reeleição, é quase uma confissão involuntária. Os torcedores e jogadores estrangeiros que começam a chegar ao Brasil para a Copa do Mundo perceberão imediatamente que o "padrão Brasil" de Dilma realmente está longe da excelência que ganhou o apelido de "padrão Fifa" pelas exigências que a entidade esportiva faz em relação aos estádios que receberão as partidas da Copa.

Reportagem da Gazeta do Povo publicada ontem mostrou a gritante diferença entre o Terminal 3 de Guarulhos – a principal porta de entrada aeroportuária do país – e os terminais 1 e 2. Oito companhias aéreas estrangeiras já estão operando no novo terminal, e até setembro serão 21 empresas. Muitos turistas-torcedores que embarcarão em aeroportos amplos e espaçosos em seus países de origem chegarão a Guarulhos pelo novo e igualmente espaçoso T3, mas terão um choque de realidade assim que precisarem de um voo doméstico para se deslocar entre as sedes da Copa. Terão sorte se não passarem pela experiência do embarque remoto em salas superlotadas com aspectos surreais, como o fato de os portões 1D a 1J de Guarulhos serem, na verdade, a mesma porta. Mesmo assim, enfrentarão apertadas áreas de check-in que não são exclusividade do aeroporto internacional de São Paulo.

Guarulhos, pelo menos, ainda está cumprindo os prazos. Na mesma reportagem, a Gazeta mostrou que o aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), por onde chegarão seis seleções da Copa, não terá as obras previstas – um novo terminal e um edifício-garagem – prontas a tempo, o que deve render uma multa de até R$ 170 milhões aos administradores. Em diversos outros aeroportos, relata a reportagem, tapumes e andaimes farão parte do comitê de recepção a torcedores e jogadores.

E não precisava ter sido assim. Em 2007, quando o país foi escolhido para sediar a Copa, já se sabia que nossos aeroportos não estavam à altura da demanda, independentemente dos eventos esportivos (para completar, em 2009 o Rio foi escolhido como sede dos Jogos Olímpicos de 2016). Mesmo assim, o governo federal, apegado a uma ideologia que faz do poder público o grande protagonista da economia e do desenvolvimento, agarrou-se à crença de que seria capaz de dar conta da modernização dos terminais. Só foi perceber seu engano em 2011, quando fez um leilão para a construção de um novo aeroporto em Natal – o primeiro voo comercial pousou em São Gonçalo do Amarante no último dia 31.

Mas os grandes aeroportos permaneciam nas mãos do governo, até que, em 2012, houve a concessão de Guarulhos, Viracopos e Brasília. As regras, que previam 49% de participação da Infraero nos consórcios vencedores (em uma demonstração clara de que o governo não estava disposto a largar o osso), espantaram os grandes players e permitiram que empresas sem experiência em grandes aeroportos vencessem a concorrência. E, no fim de 2013 (quase às vésperas da Copa), foram leiloados o Galeão, no Rio, e Confins, em Belo Horizonte – estes, sim, ficarão nas mãos de empresas que administram alguns dos melhores aeroportos do mundo, como os de Cingapura, Munique e Zurique.

"A Infraero não faria o que foi feito [no Terminal 3 de Guarulhos] com a mesma qualidade e no mesmo período", disse à Gazeta do Povo a diretora da Secretaria de Aviação Civil (SAC) Martha Seillier. A análise certeira, ainda mais vinda de um membro do governo federal, mostra o abismo existente entre a eficiência da iniciativa privada e a do governo no setor de infraestrutura. É algo tão óbvio que chega a surpreender que não tenha sido admitido antes. E não serão apenas os torcedores da Copa que pagarão por essa cegueira – mesmo depois do evento, ainda levará muito tempo para que instalações como o Terminal 3 de Guarulhos sejam a regra, e não a exceção.

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