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O problema ético é de ordem intelectual. Tem difícil definição. Sabe-se mais o que ele não é do que o que é. A ética, por exemplo, não nasce de um pensamento rasteiro e tacanha, como aquele que acredita estar num prato de arroz com feijão todos os dilemas da humanidade. A ética, idem, não convive com a ingenuidade, pois supõe o indivíduo crítico, agudo, com ironia a toda prova. Eis a questão.

É certo que "senso crítico" se tornou uma daquelas expressões usadas a qualquer preço, principalmente na escola onde, não raro, tornou-se um sinônimo de ranzinzice, de negação do prazer estético e tudo mais. Por trás da criticidade escolarizada, vigora, muitas vezes, uma espécie de realismo soviético: tudo tem de dizer algo prontamente identificável como válido e louvável.

Um caminho para desviar dessa cilada é a formação do cidadão leitor. É de posse da pluralidade de ideias – ouvindo vozes – que o homem comum vai exercer o maior de seus direitos: o de tomar a palavra, tendo algo a dizer. Curiosamente, um certo Brasil demonstrou ter medo de palavras que não as suas.

Atentou-se contra a imprensa, "essa conspiradora". E por tabela não se avançou como se esperava na consolidação da sociedade leitora. Tristes trópicos. Que venham bons ventos no ano que vai nascer. Falemos e falemos muito. É de direito.

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