| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Na segunda-feira, o diretório do Partido dos Trabalhadores em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, aprovou a abertura de um processo disciplinar contra o ex-ministro Antonio Palocci, que pode acabar até mesmo expulso do PT. Qual teria sido o seu grande crime? Não pode ter sido o caso da violação do sigilo do caseiro Francenildo – o Supremo Tribunal Federal inocentou Palocci de envolvimento neste caso em 2009. Seria o recebimento de propinas do petrolão, pelo qual Palocci foi condenado pelo juiz Sergio Moro em 2016? Ou alguma outra denúncia da Operação Lava Jato?

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Nada disso: o imperdoável crime de Antonio Palocci foi dedurar Lula. Em depoimento ao juiz Moro no processo em que é réu, ao lado do ex-presidente e mais seis pessoas, e que investiga a compra de um terreno para a construção da sede do Instituto Lula, Palocci não economizou e disse que Lula tinha um “pacto de sangue” com a Odebrecht. A empreiteira teria bancado não apenas o terreno, mas o sítio de Atibaia, cachês generosos por palestras e uma megadoação para suas campanhas eleitorais. Além disso, afirmou que ele e Lula teriam também trabalhado para obstruir investigações da Lava Jato.

Os mensaleiros roubaram, mas foi pelo bem do partido. E nenhum deles entregou companheiros

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Se Palocci for mesmo submetido ao tribunal interno do PT, tudo aponta para um julgamento de fachada, como aqueles da época stalinista. Afinal, o veredito já está dado: a presidente do partido, a senadora paranaense Gleisi Hoffmann, declarou que o ex-ministro “mentiu sobre Lula” e por isso “quebrou o decoro” do partido. É preciso mais? Não surpreenderia se, como afirmaram algumas colunas políticas, Palocci resolvesse sair do PT antes que o partido se livrasse dele.

É curioso que o presidente do diretório municipal do PT de Ribeirão Preto tenha dito ao jornal O Estado de S.Paulo que o processo não teria relação nenhuma com as acusações de corrupção, que “vão ser julgadas pela Justiça federal”. De repente, uma liderança petista resolveu confiar no Judiciário, este mesmo que tem realizado “julgamentos de exceção” desde a época do mensalão e que promove “perseguição política” contra o PT.

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Mas coerência não é mesmo o forte da cúpula petista quando o assunto é o desrespeito ao Código Penal e a obediência às próprias regras partidárias. Afinal, o artigo 231 do estatuto do partido afirma que “Dar-se-á a expulsão nos casos em que ocorrer: (...) XII – condenação por crime infamante ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado”. Foi justamente o caso de José Dirceu, José Genoino, Delubio Soares e João Paulo Cunha no mensalão: todos condenados pelo Supremo Tribunal Federal, mas sem punições internas (Delubio até foi expulso em 2005, mas readmitido em 2011, antes de sair sua condenação pelo STF). O então presidente do partido, Rui Falcão, se limitou a afirmar que “Quem aplica o estatuto somos nós. Nós interpretamos o estatuto”. Uma visão bem elástica do verbo “interpretar”, pois também admite que o documento seja simplesmente ignorado.

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Os mensaleiros, aliás, não apenas escaparam de punição interna: eles foram louvados pelos militantes, exaltados como “guerreiros do povo brasileiro”. Afinal, roubaram, fraudaram a democracia, mas foi pelo bem do partido, foi para perpetuar o PT no poder. E, importante dizer, nenhum deles abriu a boca para incriminar companheiros, especialmente aqueles mais importantes que outros. Palocci talvez fosse pelo mesmo caminho – no caso do petrolão, o ex-tesoureiro João Vaccari Neto recebeu aclamação semelhante – se não tivesse dito o que disse sobre Lula. Quem comete crimes e sofre pelo partido é transformado em herói. Quem colabora com a Justiça e entrega os comparsas é execrável, indigno de fazer parte do PT – seria melhor morrer que delatar, disse Dirceu. Aqui, sim, ninguém pode dizer que falta coerência.