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Editorial

Pandemia e economia no segundo semestre de 2021

(Foto: Lineu Filho /Tribuna do Paraná)

No Brasil, a pandemia do coronavírus no Brasil está em seu terceiro semestre. O mês de março de 2020 é o marco zero do agravamento no país, quando começou a decretação, pelos estados e municípios, do fechamento de empresas, escolas, estabelecimentos de serviços, escritórios, consultórios profissionais, suspensão de aulas presenciais e, de resto, todo estabelecimento que atendesse pessoas presencialmente. A permissão para abrir e continuar operando foi dada a algumas atividades consideradas essenciais, sem as quais a vida não se mantém, a exemplo de hospitais, fornecedores de alimentos etc. O isolamento social – bastante divulgado como lockdown, na expressão em inglês – e a determinação para as pessoas ficarem em casa foram a marca de uma paradeira geral.

A doença derivada da infecção pelo vírus se alastrou por todos os estados brasileiros e deve terminar o primeiro semestre deste ano com boa parte das empresas e atividades ainda fechadas, inclusive escolas. A recessão e parte do sistema econômico ainda parada são realidades gravíssimas, com a consequente tragédia em termos de desemprego, perda de renda, aumento da miséria e da pobreza, apesar dos programas de auxílio emergencial executados pelo governo federal. Nesse cenário, líderes empresariais e autoridades têm dito que, se o país entrar o segundo semestre deste ano com a mesma paradeira, os prejuízos podem se comparar aos semestres anteriores.

Mais um semestre com a empresa fechada pode ser o último tiro a levá-la à falência e extinção definitiva

Aqui entra em uma questão essencial: o sistema produtivo, se continuar parado caso a pandemia não reflua substancialmente, presenciará prejuízos e danos muito maiores que os semestres anteriores. A razão vem de uma lei científica da economia, a “lei dos rendimentos marginas decrescentes”. Inicialmente, essa lei explica uma realidade factual verificada na produção de bens e serviços à medida que se altera a combinação entre a quantidade de trabalho e a quantidade de capital numa unidade produtiva. Um exemplo simples é a produção de tomates em um alqueire de terras, que começa com apenas um operário (o trabalho) para plantar e colher naquela quantidade de capital (o alqueire de terra). Um operário sozinho produz baixa quantidade de tomates, pois ele tem de ser especializado em todas as tarefas do processo e deve executá-las todas, inclusive aquelas que deviam ser feitas simultaneamente.

A lei dos rendimentos decrescentes constata que, se dobrar a força de trabalho, ou seja, mais um operário for adicionado, a produção mais que dobra pelas vantagens da divisão das tarefas, e assim vai até que se chegue à combinação ótima entre o número ideal de operários para um alqueire de terras. A produtividade (produto por operário) é crescente até se atingir a combinação ótima entre trabalho e capital. Se, pela longa experiência histórica dos plantadores de tomate, for verificado que dez operários é o número ideal para trabalhar um alqueire de terras, a adição de mais operários além de dez, mesmo que individualmente sejam competentes, não leva ao aumento da produção total, o que faz diminuir a quantidade produzida por operário. Esse exemplo é didaticamente esclarecedor, e pode ser transposto para o âmbito da empresa como um todo; logo, é possível verificar que a lei dos rendimentos decrescentes se aplica à saúde econômica geral da empresa, sobretudo em relação à situação financeira do negócio.

A deterioração financeira de uma empresa fechada durante quatro semestres é crescente a partir do marco zero. Assim, o tamanho do estrago e dos prejuízos para a saúde financeira da empresa é maior no quarto semestre que nos semestres anteriores. Além da deterioração material dos equipamentos e máquinas, ocorre deterioração tecnológica, que é a obsolescência em função do avanço da tecnologia. Se uma pessoa compra um computador e o deixa na caixa por alguns anos, quando for usá-lo perceberá que, embora fisicamente novo, é uma máquina completamente superada pelo avanço dos modelos novos. Algo parecido ocorre com a situação financeira da empresa, com outra característica. Uma empresa que tomou empréstimo bancário para montar sua estrutura teve juros a pagar nos semestres anteriores, juros esses que vão se acumulando como custo do financiamento e despesa a ser coberta com a receita do negócio (inexistente em função do fechamento).

Mais um semestre com a empresa fechada pode ser o último tiro a levá-la à falência e extinção definitiva. Qualquer organismo doente, seja um animal ou uma empresa, sofre muito mais com os últimos golpes que com os primeiros, pois à medida que os reveses ocorrem o organismo se enfraquece até o ponto em que pode sucumbir diante de um golpe mais fraco. Com variações de empresa para empresa, o sistema econômico como um todo pode sofrer muito mais no segundo semestre de 2021, caso permaneça fechado, do que sofreu em qualquer semestre anterior. Quando uma empresa deixa de operar, toda a sociedade sofre. Os empresários, os fornecedores, os bancos, os empregados, os clientes e o governo, pois, sem receitas e lucros, não há impostos.

Se o Brasil tivesse alcançado 85 milhões de vacinados até meados de abril de 2021, a reabertura de praticamente todo o sistema econômico já seria possível

Os líderes empresariais, com honrosas exceções, demoraram para entender que não deviam ficar passivamente à mercê dos governos municipais, estaduais e federal para enfrentar o problema do fornecimento de vacinas. Uma pergunta a ser respondida é: qual teria sido o volume de vacinas fornecidas ao Brasil no primeiro semestre de 2021 se todos – prefeitos, governadores, parlamentares e empresários – tivessem se unido como tem sido feito agora? Talvez o Brasil já tivesse vacinado tanto quanto os Estados Unidos, ou seja, 40% da população total de 212,5 milhões, o que aqui daria 85 milhões de pessoas. Isso representaria metade da população de 170 milhões que precisa ser vacinada (já que bebês, crianças e parte dos adolescentes não estão previstos para receber a vacina, pelo menos por enquanto).

Se o Brasil tivesse alcançado 85 milhões de vacinados até meados de abril de 2021, a reabertura de praticamente todo o sistema econômico já seria possível. Estados norte-americanos como o Texas já estão até abolindo a obrigatoriedade de máscara. Outros que tiveram abordagens mais restritivas, como é o caso da Califórnia, estão anunciando que no segundo semestre não haverá mais lockdown. A economia volta a funcionar e o processo de vacinação segue para fazer a pandemia coisa do passado.

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