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Editorial

A resposta ao pânico nos mercados

Paulo Guedes.
O ministro da Economia, Paulo Guedes. (Foto: Agência Brasil)

A segunda-feira foi de pânico nos mercados globais como não se via pelo menos desde a crise do subprime, mais de dez anos atrás. Uma disputa entre Rússia e Arábia Saudita jogou para baixo os preços do petróleo, dentro de um contexto de menor demanda pela commodity – efeito da epidemia de coronavírus, que desacelerou a atividade econômica em boa parte do mundo. Como consequência, as bolsas de valores de todo o mundo também sofreram pesadas perdas. No Brasil, a B3 teve seu pior dia desde o “Joesley day” (quando o presidente Michel Temer foi acusado de corrupção), com acionamento do circuit breaker, o dispositivo que interrompe as negociações em caso de queda superior a 10%. No fim, o tombo foi de pouco mais de 12%. O dólar, que já vinha em escalada crescente, fechou a segunda-feira em R$ 4,72.

Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, demonstrava tranquilidade, limitando-se a defender a continuação da pauta de reformas. “O Brasil não vai ao sabor do vento internacional. Se fizermos as coisas certas, o Brasil reacelera”, afirmou, acrescentando que a equipe econômica está “absolutamente tranquila quanto à nossa capacidade de enfrentar a crise” e que “nós precisamos das reformas, o Brasil pode ser o país que transformou a crise em reaceleração do crescimento e geração de empregos num mundo que tá com sérios problemas”.

Se o alarmismo exagerado não ajuda, tampouco se pode considerar adequada a atitude de quem faz pouco da situação

Mesmo admitindo-se que Guedes não quisesse colaborar para aprofundar o pânico, não há como minimizar a seriedade dos problemas que levaram ao caos nos mercados. Se o alarmismo exagerado não ajuda, tampouco se pode considerar adequada a atitude de quem faz pouco da situação. O mundo ainda está longe de ter uma ideia precisa dos impactos da epidemia. A essa altura, um país inteiro, a Itália, está sob fortíssimas restrições ao deslocamento de pessoas e à realização de quaisquer atividades que exijam aglomerações, com efeitos drásticos sobre a atividade econômica. Este é mais um caso em que o Brasil está na carona, sofrendo as consequências das ações de outros atores no tabuleiro mundial, independentemente de todas as “coisas certas” que estejam sendo feitas internamente.

O ministro efetivamente tem razão no aspecto central de suas observações: o Brasil precisa, sim, realizar as reformas para ter condições de se recuperar mais rapidamente das inevitáveis crises pelas quais o mundo passa e ainda haverá de passar. Durante grandes turbulências, a regra é a fuga para a segurança, e mesmo países emergentes que estejam com as contas em ordem sofrerão os efeitos de fugas de capital. Mas, quando o caos passar, o Brasil precisa estar bem posicionado para disputar o dinheiro do investidor, pois um país que vive em descontrole fiscal não é destino atrativo para ninguém, com exceção, talvez, dos especuladores interessados em arriscar atrás dos juros altos que nações nessa situação precisam oferecer para atrair capital.

Nunca é demais lembrar que o então presidente Lula minimizou os efeitos da crise global de 2008, afirmando que, enquanto o mundo era varrido por um tsunami, o Brasil só veria uma “marolinha”. Mas a política econômica que conteve os efeitos imediatos da crise, baseada na gastança indiscriminada, cobrou um preço altíssimo anos depois, com a pior recessão da história do país. Se as reformas providenciarem os fundamentos sólidos de que o Brasil precisa, os furacões farão seu estrago, mas a reconstrução será mais fácil.

A necessidade das reformas é evidente, embora não custe nada reafirmá-las com frequência. Mas elas ainda levarão tempo para serem aprovadas, e vários de seus bons efeitos serão sentidos apenas no médio e longo prazo, enquanto há uma crise ocorrendo neste exato momento. A hora também pede uma demonstração de que o governo está atento às turbulências e disposto a fazer o que estiver a seu alcance para minimizar suas consequências.

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