A reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento, realizada em Belo Horizonte, confirmou que o Brasil precisa construir uma agenda própria para o futuro imediato, se quiser sair da rabeira dos países do continente. Com crescimento em torno de 2% no ano passado, ficamos emparelhados com o Haiti – país que sofreu no ano passado uma guerra civil, só superada com a presença de forças das Nações Unidas –, muito atrás dos emergentes (6,5%) e apenas metade da média do mundo em geral, que conseguiu expandir sua economia em 4,6%.

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Mesmo a estimativa preliminar de crescimento de 2,3% para o PIB de 2005 é passível de revisão. O IBGE projetou uma contribuição de 0,8% na agropecuária, mas a entidade nacional do setor assegura ter havido ali uma retração de 6%, devido à seca, que atingiu lavouras do Centro-Sul; à febre aftosa e à gripe aviária, que afetaram a produção e exportação de carnes bovina, suína e de aves; e ao desalinhamento cambial, que derrubou as margens e desestimulou as exportações em geral.

A desagregação dos índices preliminares apresentados pelo IBGE confirma essa retração do nível de atividade no país em 2005: além da agricultura, a indústria perdeu participação no produto interno; a contribuição das vendas externas de bens e serviços recuou de 18% para 16,8%; e os investimentos só cresceram 0,3% para 19,9%, devido ao custo maior de máquinas e equipamentos importados, que passaram a pagar um novo tributo, o PIS/Cofins. De forma similar ao ano passado, no primeiro trimestre os itens que avançaram foram do setor governo – via arrecadação e gastos maiores e o consumo das famílias (subiu para 55,5% do PIB).

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O consumo das famílias é importante nos países desenvolvidos, porém nações emergentes no estágio em que se encontra o Brasil dão mais importância à poupança produtiva, para que, transformada em investimento, seja capaz de gerar mais exportações – alavanca que incorpora expansão e renda. Em paralelo, empenham-se pela produtividade dos fatores socioeconômicos, via ênfase na educação das pessoas, investimento em infra-estrutura e maior produtividade.

Tais requisitos têm se mostrado ausentes no Brasil, em comparação com as nações centrais ou aquelas em processo de desenvolvimento. Em vez disso, o país ostenta carga tributária (quase 40%) típica dos países do Norte da Europa, onde as necessidades básicas já foram satisfeitas e a rede de proteção social ampla cobre necessidades aqui custeadas pelas famílias: educação e saúde de qualidade, serviços públicos de segurança e assim por diante.

Observando a resistência da população dos países europeus à adoção de reformas modernizadoras, verifica-se que o Brasil segue um modelo mal-adaptado à sua realidade. Ao considerar esses aspectos, o professor Hélio Jaguaribe, veterano estudioso da nossa situação, diz que o Brasil necessita de um plano estratégico, com soluções próprias para nos levar ao crescimento sustentável ainda no curso desta geração.