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O livro e a leitura, finalmente, estão em alta no Brasil. Mais um pouco de esforço, e sorte, rivalizam em popularidade com as revistas de fofocas. Tal ibope, vale dizer, não se refere a vendas alavancadas ou a reviravoltas no letramento – embora haja notícias a esse respeito. Os bons ventos sopram graças à boa colocação do livro na agenda nacional, justo num momento em que, tristes trópicos, martelam-se os atos secretos de Sarney e a perplexidade diante da escolha de Lula pelo PMDB. O que é isso companheiro?

Noves fora, o próprio Lula – que no documentário Entreatos, de João Moreira Salles, tornou pública sua insegurança por ter baixa instrução formal – saiu da concha e declarou que livros marcaram sua vida. Não doeu nada. É consenso entre estudiosos de leitura que mal não faria se mais e mais políticos, empresários e artistas tornassem públicas não só suas viagens, paixões, restaurantes, plásticas e carros possantes, mas também sua rotina com os livros.

Alguns dirão que essas rotinas não existem e que ninguém precisa de mais mentiras nas terras do Jeca Tatu. Mas é verdade também que os homens e mulheres cortejados pela mídia precisam ser referência, ainda que mínima, de gosto pelo conhecimento. O contrário disso é imoral. Afinal, uma das frases mais ditas pelo menos desde 1700 neste país é que só a educação salva. Que seja, então, impressa na Bandeira Nacional.

A propósito, um dos assuntos em voga – ainda com base na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2008 – é a urgência de programas de tevê – particularmente as novelas – assumam seu papel no fomento da leitura. A última vez em que um personagem de folhetim apareceu lendo numa trama, arrisca, foi Toni Ramos em Laços de Família, há nove anos.

Não é só muito tempo, é um descaso com uma clássica questão de fundo, do mesmo naipe que nepotismo, o patrimonialismo, o familismo, exploração sexual de crianças, para citar quatro das nossas tragédias. Além de quê, não faltam números confirmando os ganhos sociais dos países que investiram pesado na difusão do livro. Ignorar esse fato é lesa-pátria. Ou se incrementam os programas de leitura ou não se verá país nenhum.

Ainda sobre a súbita elevação de temperatura em torno do livro, vale inventariar que os livreiros estão se mobilizando para discutir a nova ordem trazida pela internet. O mercado da música dormiu no ponto e deu no que deu. Os jornais, idem, não chegam a um consenso entre a validade ou não dos conteúdos abertos e gratuitos, como se notícia custasse o mesmo que uma pedra de sabão caseiro. E os livros, em velocidade para além da capacidade de mobilização, estão caindo na rede. Como será? – bem perguntou o visionário Michael Dertouzos, ao questionar, já nos anos 90, o apartheid entre humanismo e tecnologia.

Pois Dertouzos já se foi e a discussão que propôs tem se dado, tardiamente, a fórceps, ou com as armas de Jorge. Para quem prefere nominar essa batalha com um termo técnico, pode chamá-la de Política Nacional do Livro e da Leitura. Com alguns anos de vida, ela acumula tropeços, mas não dorme na gaveta jamais. Um de seus ganhos recentes diz respeito à compra de livros didáticos. A dizer.

Essa transação já mobilizou quase 60% do mercado editorial, camuflando o desprezo geral da nação pela compra voluntária de livros. Nenhum setor pode sobreviver sem adesão do consumidor, mas as medidas paternalistas prevalecem, sufocando os livreiros. Pois de uns tempos para cá tem se falado, com afinco, na compra como uma política de Estado e não mais como programa de governo, eufemismo para repasse movido a lobby.

A informação é que estão sendo negociados 114,8 milhões de livros escolares, destinados a 36,6 milhões de estudantes de 100 mil instituições. Seria ingênuo negar a importância dessa transação. O alívio é que finalmente Brasília percebe que essa compra não pode se resumir a uma caixa de livros despachada para a biblioteca das escolas. Quer-se saber o que ocorre a folhas tantas. É o que se diz. Aguardemos os próximos capítulos.

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