Enquanto alguns partidos já definem seus nomes para disputar o Planalto em 2018, dois pré-candidatos à Presidência da República estão às voltas não com ataques e denúncias de rivais, mas com trapalhadas dos próprios aliados. O tucano Geraldo Alckmin e o emedebista Henrique Meirelles, ambos ainda aguardando a consagração de seus nomes nas respectivas convenções, marcadas para o início de agosto, têm precisado explicar o que Paulinho da Força (Solidariedade) e o ministro Carlos Marun vêm acrescentando às plataformas dos pré-candidatos.
Paulinho da Força, ex-presidente da Força Sindical, foi um dos maiores críticos do fim da cobrança indiscriminada do imposto sindical, e não esconde de ninguém que trabalha pelo retorno do pagamento, que até a entrada em vigor da reforma trabalhista era cobrado de todos os assalariados, independentemente de serem ou não filiados a algum sindicato. E, quando não apenas o Solidariedade, mas vários outros partidos do “Centrão” se comprometeram informalmente com Alckmin, as cobranças de Paulinho vieram a público. O perfil do tucano no Twitter tratou de desmentir enfaticamente a possibilidade – e, logo depois, o próprio Alckmin desmentiu enfaticamente seu tuíte, ao culpar uma “trapalhada de assessores”.
Trapalhada maior, ao que parece, foi negar uma plataforma histórica do PSDB e do próprio Alckmin em troca do apoio do Solidariedade. Por causa disso, o tucano se enfiou em um vaivém sem fim – uma hora, o pré-candidato se reúne com Paulinho para tratar de uma “contribuição sindical negocial”; depois, diz que “não há hipótese de voltar o imposto sindical” e fala até em extinguir o Ministério do Trabalho. A tal contribuição consistiria em um valor descontado de todos os trabalhadores beneficiados por negociações trabalhistas costuradas pelos sindicatos e aprovadas em assembleia, enquanto a reforma trabalhista deixou claríssimo que qualquer desconto desse gênero precisa de anuência explícita do trabalhador.
Como consequência, quase todo o noticiário sobre a pré-candidatura de Alckmin tem se resumido a desmentidos e esclarecimentos sobre o tema. Um assunto que já deveria estar superado, com a bem-vinda aprovação da reforma trabalhista, foi ressuscitado em uma barganha por apoio político e vem eclipsando todos os demais itens da plataforma tucana.
Enquanto isso, Carlos Marun, o truculento ministro da Secretaria de Governo, cargo que faz dele o articulador político do presidente Michel Temer, elaborou uma lista bem mais ampla de absurdos em mensagem encaminhada a Henrique Meirelles e deputados do MDB. Sensatez, só na defesa das privatizações e da reforma da Previdência; de resto, há a proposta de uma “cobrança mínima” no SUS (para o qual todos os brasileiros já contribuem com seus impostos), a criação de uma “corte constitucional” acima do Supremo Tribunal Federal (que, lembre-se, já é a corte constitucional brasileira) e propostas que são claramente um retrocesso no combate à corrupção, como a aprovação do projeto de lei de abuso de autoridade e uma anistia ao caixa dois cometido até o momento, um truque que já foi tentado, felizmente sem sucesso, quando o Congresso destruiu as Dez Medidas Contra a Corrupção.
Meirelles evitou virar vítima do “efeito Paulinho da Força” e tratou logo de se desvencilhar do pacote de Marun, afirmando que as medidas não integram seu plano de governo, nem são recomendações do partido. O presidente do MDB, senador Romero Jucá, também disse que as propostas são apenas opiniões pessoais do ministro. No entanto, Meirelles não quis criticar o ex-colega de Esplanada: “não tenho juízo de valor sobre cada proposta específica e, portanto, prefiro não opinar sobre as opiniões do ministro”, disse em entrevista à Gazeta do Povo.
De Meirelles ainda se pode dizer que a iniciativa de Marun foi algo intempestivo vindo de um ministro bastante propenso a tais atitudes, e que será rejeitada. Alckmin terá mais trabalho, pois não é segredo para ninguém que a volta do imposto sindical, ainda que de uma forma mitigada, é parte importante das negociações pelo apoio do Solidariedade e do resto do “Centrão”. Mas, em ambos os casos, para dois pré-candidatos que ainda patinam nas pesquisas de opinião, esse tipo de “fogo amigo” só prejudica suas pretensões.
Artistas de esquerda pressionam governo Lula por maior taxação sobre streaming
Primeira Turma do STF condena Filipe Martins a 21 anos e 6 meses de prisão
De “menino de ouro” a alvo: por que o PT questiona o trabalho de Galípolo no BC
Quem é o desembargador preso em operação que investiga vazamento de informações para o CV