Maiores emissores de gases do efeito estufa do mundo, os Estados Unidos e a China pretendem suavizar os termos do próximo relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática da ONU. Alegam que a tomada de medidas imediatas para combater a mudança climática, defendida na versão preliminar do texto, será mais "cara e menos eficiente" do que pregam os cientistas.
Como se sabe, o relatório preliminar, esboçando um quadro bastante sinistro para o futuro da Terra, foi preparado por centenas de cientistas de todo o mundo e devidamente revisado por pesquisadores independentes.
Por outro lado, o debate sobre a biodiversidade, a mudança climática e a bioenergia ocorre em grande parte sem a participação efetiva de um personagem-chave, o setor agrícola. A colocação é mais do que oportuna no momento em que o alarmismo, o "achismo" (muita gente simplesmente achando isso ou achando aquilo) e a própria subtração de informações oficiais ameaçam roubar a cena, despindo de seriedade as discussões. Ela partiu do diretor-geral adjunto da Organização da ONU para a Agricultura e a Alimentação (FAO), Alexander Müller.
A agricultura, como lembrou, é freqüentemente responsável pelos danos ao meio ambiente, mas, ao mesmo tempo, os produtores ainda não são considerados elemento importante para a preservação dos ecossistemas vitais.
Caso se queira conservar o equilíbrio ecológico do qual dependem a atual e as próximas gerações, a agricultura precisa estar no centro das atenções. Sem mudanças desse tipo, a destruição do meio ambiente pode ameaçar a produtividade agrícola e a segurança alimentar. É preciso vontade política para reverter a destruição dos ecossistemas por meio de mudanças nas políticas e práticas agrícolas.
Dentro desse ótica, é urgente uma análise global dos desafios associados à agricultura, bem como um marco estratégico para identificar os enfoques adequados "do ponto de vista ecológico e econômico". A FAO apresentou um relatório no qual indica que, apesar da aprovação de importantes acordos internacionais sobre o meio ambiente, as emissões de carbono continuam aumentando, as espécies se extinguindo e a desertificação já virou uma grave ameaça em muitos países. E o aumento previsto das monoculturas para produzir biocombustível pode acelerar a erosão da biodiversidade.
Se faz necessário, também, reduzir o dano provocado pela pecuária. A criação de gado tem um papel crescente na economia agrícola. Os técnicos prevêem que a produção mundial de carne chegará a 465 milhões de toneladas em 2050, enquanto a de leite superará a marca de 1 bilhão.
Tal atividade aumenta a pressão sobre muitos ecossistemas, agravando problemas. Para a FAO é necessário tomar "atitudes drásticas" de tipo técnico e político, levando-se em conta todas as peças que compõem o tabuleiro do quebra-cabeça ambiental.