Em economia, a expansão e o progresso material tendem a criar a semente de sua própria crise. Em períodos de abundância e de condições favoráveis, a melhoria da condição social da população tende a surgir rapidamente, o otimismo passa a compor as decisões de investimentos e de negócios, o nível de emprego cresce e os governos melhoram as políticas de distribuição de renda. O problema dos períodos de prosperidade é a tendência ao relaxamento que surge no setor privado, com prejuízos à eficiência produtiva e, no setor público, com elevação nos gastos públicos e desequilíbrios nas contas do governo.
Se à estagnação da competividade e à piora das contas públicas seguir-se um cenário externo desfavorável, tem-se um quadro propício à reversão do crescimento. A sequência acaba sempre em redução da atividade econômica, elevação dos déficits públicos, aumento de inflação e sintomas típicos das crises, cujo último pilar a ceder é o nível de emprego. Nesses momentos, em que a recessão pode aparecer no horizonte econômico nacional, instala-se o pessimismo, o governo tem de fazer correções no relaxamento fiscal, os investidores colocam freios em seus projetos e o ambiente social torna-se tenso.
Se por um lado as trapalhadas do governo levaram o Brasil à situação atual e parecem complicadas de reverter no curto prazo, cabe indagar se esse quadro de crise e pessimismo justifica condenar o Brasil a seguir em decadência no longo prazo
Isso vem acontecendo no Brasil dos últimos anos, situação que se agravou em face do gigantesco escândalo de corrupção envolvendo dirigentes da Petrobras, empreiteiros e políticos. Para piorar o quadro, a presidente Dilma Rousseff criou as condições para a crise política e uma crise de confiança, após ter feito com convicção e persistência um conjunto de promessas e afirmações que, logo após sua eleição, foram totalmente desmentidas pelas atitudes da própria Dilma.
Ao passar a agir em sentido contrário ao que havia prometido e ao ter tomado medidas iguais àquelas que ela criticava e dizia serem parte do programa de seus adversários (ressaltando que tais medidas iriam quebrar o Brasil e suprimir programas sociais), a presidente viu despencar rapidamente a confiança da população nela e em seu governo. Juntando tudo isso a uma sequência de problemas no relacionamento com o Congresso Nacional, o quadro econômico desfavorável apenas apressou a instalação de um clima de desesperança. Para complicar, os analistas internacionais, as agências de classificação de risco e a imprensa mundial vêm afirmando que o Brasil fracassou, está ficando para trás e já não pode ser visto com um lugar de perspectivas favoráveis. Há quem diga, inclusive, que o Brasil saiu do grupo dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) por ter perdido a capacidade de crescer e melhorar a situação social.
Entretanto, se por um lado as trapalhadas do governo levaram o Brasil à situação atual e parecem complicadas de reverter no curto prazo, cabe indagar se esse quadro de crise e pessimismo justifica condenar o Brasil a seguir em decadência no longo prazo. Em outros momentos, o país foi capaz de interromper períodos de expansão e entrar rapidamente na rampa rumo à recessão, como também tem sido capaz de recuperação relativamente rápida.
Sem adotar postura ingênua, é possível afirmar que o Brasil tem amplas condições de sair da má situação atual, principalmente se nos próximos anos houver recuperação dos preços internacionais dos produtos que o país exporta. Os problemas de atraso na infraestrutura e a deterioração das contas nacionais podem ser revertidos e superados, o que ajuda a acreditar que a crise poderá ser superada em prazo não muito longo –mas isso exigirá do governo a admissão de sua própria culpa no colapso fiscal e a aceitação do protagonismo da iniciativa privada na recuperação da infraestrutura nacional. A própria Operação Lava Jato, apesar da tragédia moral que vem demonstrando, pode deixar um legado de limpeza e melhoria na ética pública. A Petrobras será beneficiada com a apuração dos crimes, a recuperação de parte do dinheiro desviado e as prisões de envolvidos condenados pela Justiça – desde que o governo abra mão do aparelhamento político da estatal, raiz do escândalo que agora vem sendo exposto.
Um fato importante na perspectiva de melhorias de longo prazo é a demonstração de rejeição da população em relação à corrupção e aos envolvidos em crimes dessa natureza, sejam eles de que partido forem e a que ideologia pertencerem. O repúdio e o grito de revolta não partem apenas de uma suposta “elite branca”, como querem fazer crer alguns membros do PT (em uma atitude estúpida que prejudica o próprio partido), mas de todas as classes sociais. No campo da economia, com os devidos ajustes, o Brasil tem condições de melhorar sua situação em poucos anos.
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