Na economia, este ano de 2017 deve marcar o fim do poço da recessão, embora não haja motivos para esperar recuperação espetacular da maior crise econômica dos últimos 116 anos, desde quando o Brasil começou a ter estatísticas sobre produto, renda, emprego e inflação. Há alguns meses, o Banco Central – que forma, ao lado do IBGE, a dupla de órgãos mais importantes em relação às estatísticas e projeções econômicas – previu que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceria 1,5%, algo em torno de R$ 100 bilhões, a preços de 2016. O próprio Banco Central veio revisando mês a mês essa previsão e, agora, fala em crescimento de apenas 0,5% – portanto, R$ 33 bilhões.
É muito pouco, principalmente se levarmos em conta que, dos 102,6 milhões de brasileiros em condições de trabalhar, o desemprego atinge 12,2 milhões, ou seja, 11,9%. A questão do desemprego, porém, é bem mais grave, pois há 5,1 milhões que estão empregados em jornadas inferiores a 40 horas por semana (são os subempregados) e 6 milhões que não estão empregados nem procurando emprego. Alguns analistas alertam para um fenômeno típico dos tempos modernos, de alto desenvolvimento tecnológico e inovações constantes, que é o aumento da produção sem geração de empregos novos.
A realidade tecnológica pode levar o país a crescer em 2017 sem gerar empregos de forma significativa
Embora de difícil mensuração, a realidade tecnológica pode levar o país a ter crescimento do PIB de 0,5% em 2017 sem adicionar nem um emprego a mais em relação a 2016. Esse fenômeno é usado por alguns especialistas que chamam a atenção para a possibilidade de o desemprego chegar a 13% da população economicamente ativa no ano que vem. Assim, não basta que o PIB cresça e comece a pôr fim à recessão. É preciso que cresça a taxas suficientes para, mesmo com incorporação das inovações tecnológicas, criar vagas capazes de reduzir o desemprego, que é a principal chaga social do país.
O desafio da economia brasileira está em descobrir como consertar o atual quadro negativo. O consumo das famílias não deverá crescer, seja em razão do desemprego, seja porque o nível do endividamento pessoal é muito alto. O consumo e o investimento no âmbito do setor público também não devem se elevar, tanto pela queda da arrecadação tributária quanto pelos enormes rombos nas contas governamentais. As saídas mais promissoras estão no aumento do investimento das empresas e na demanda do resto do mundo por produtos brasileiros. Essas variáveis, entretanto, não dependem somente de aspectos econômicos, mas também de confiança na estabilidade política e da crença de que o sistema público vai começar o conserto da bagunça em suas contas e da deterioração política e moral.
No capítulo do investimento empresarial, a confiança no país é decisiva para induzir o capital estrangeiro a montar seus negócios em solo brasileiro, sem o que os investimentos das empresas nacionais não darão conta de puxar a recuperação. Quanto à demanda externa, ainda que possa haver aqui e acolá alguma perspectiva de aumento do consumo internacional, isso deverá se dar a taxas modestas e poderá dificultar o aumento das exportações brasileiras. Os maiores problemas da economia são internos, foram fabricados dentro do país e, enquanto não houver sinais claros de que a deterioração econômica e política está em recuperação, a saída do fundo do poço da recessão ficará difícil. O país pode parar de afundar em 2017 – e tudo indica que isso acontecerá –, mas estará longe de reverter o processo recessivo em que se meteu nos últimos anos.
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