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Editorial

PIB pequeno

O Brasil cresceu 3,4% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, um dos piores índices mundiais dentre os divulgados na última quarta-feira. Mas tem gente que ainda comemora, como o fizeram, por exemplo, o presidente Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Não se compreende o porquê dessa alegria se têm à vista as taxas obtidas por outros países emergentes, como a China, com 10,3%; Índia, 9,3%; Coréia, 6,2%; México, 5,5%; Polônia, 5,2%; e Rússia, 4,6%.

Se estas nações, cujas economias enfrentam problemas tão ou mais graves do que os nossos, podem crescer tanto, por que não se reproduzem aqui índices semelhantes aos seus? Antes, portanto, de se darem a comemorações, melhor fariam os condutores da economia brasileira se diagnosticassem as causas históricas da paradeira e tomassem medidas efetivas para superá-las e para colocar o país no rumo do crescimento que, potencialmente, pode alcançar.

De fato, o modesto crescimento do nosso PIB não pode, de maneira alguma, ser considerado surpreendente, tantas são as razões que o explicam. Não há economia no mundo capaz de apresentar resultados melhores com uma taxa de juros reais tão exorbitante quanto a brasileira ou de suportar o tamanho da carga tributária que pesa sobre a produção – dois dos principais fatores impeditivos aos investimentos.

Mas há ainda muitas outras razões igualmente prejudiciais. Dentre elas se contam a precariedade da infra-estrutura, especialmente na área de transportes (rodovias, ferrovias e portos); a obsoleta legislação trabalhista; o excesso de gastos públicos estéreis e a confusa e instável máquina tributária. Isto tudo sem falar na fragilidade dos marcos regulatórios e no inaceitável grau de corrupção que permeia as relações com o Estado – quesitos que abalam profundamente a confiança dos investidores.

Nenhum desses problemas foi atacado de forma minimamente conveniente por este ou por outros governos que o antecederam – mas apesar disso o Brasil ainda conseguiu crescer 3,4%. A partir dessa constatação, pode-se perfeitamente inferir que o potencial nacional de desempenho é extraordinariamente maior do que o que vimos alcançando – o que se confirma pela simples observação do que ocorre em economias similares às nossas, como as já citadas. Com o agravante de que detemos inúmeras vantagens comparativas inegavelmente superiores a de quase todas.

É preciso lembrar que o nosso país não registra em sua história mais recente período de tanta bonança, tão favorável para o crescimento, quanto o que se vive nos últimos três anos. A economia mundial está em franca e positiva ebulição, há enorme liquidez de capitais, o comércio internacional se desenvolve de modo exuberante. Nem mesmo as temidas crises de escassez ou de alta cotação do petróleo são capazes de produzir sustos internos.

Abriu-se, pois, uma "janela de oportunidades" jamais vista. Outras nações souberam como aproveitá-la e dela extrair frutos para garantir o próprio desenvolvimento. O Brasil, infelizmente, não.

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