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Editorial

O PIB anual e o valor do tempo

Quando a pandemia se espalhou e se agravou, culminando com o fechamento de várias atividades econômicas e as medidas de distanciamento em larga escala – o que se deu basicamente a partir de abril de 2020 –, a nação começou a trabalhar com hipóteses sobre quanto tempo duraria a paralisação de grande parte do sistema produtivo e, por decorrência, qual seria o tamanho da recessão. Dois indicadores, considerados os principais na macroeconomia, foram piorados fortemente a partir do segundo trimestre do ano: o Produto Interno Bruto (PIB) e o desemprego. Uma recessão é caracterizada essencialmente por queda substancial do PIB e aumento do desemprego, com todas as consequências dramáticas para as pessoas e as famílias em geral.

Estimativas iniciais feitas em maio de 2020 variavam entre 4,5% a 9% para a queda estimada do PIB no ano, com desemprego entre 15% e 20%. A possibilidade de o Brasil ver o PIB diminuir em 9% comparado com 2019 e aumentar o desemprego para 20% da população economicamente ativa criou um clima de pânico, no mínimo por duas razões: uma, como a renda por habitante brasileira é baixa, configurando o caráter de país pobre, a queda de 9% no PIB, associada ao crescimento da população no ano, teria um efeito catastrófico no agravamento da pobreza; a outra razão é que a taxa de desemprego é calculada tomando o total de pessoas sem emprego, não considerando as pessoas subempregadas, ou seja, aquelas com jornada parcial semanal e redução de renda. Se forem somados os trabalhadores subocupados, o desemprego é bem mais grave.

Será em função da velocidade de imunização da população e da confiança no retorno às atividades que a produção crescerá mais, ou menos, em 2021

Um inibidor do crescimento rápido é o fato de que aumentos do PIB ocorrem a taxas diárias baixas e de forma lenta em relação à passagem do tempo, o que faz da recuperação uma variável estritamente dependente do fator tempo. No fundo, a produtividade econômica de um país é o produto nacional por hora de trabalho, e é ela que distingue os países desenvolvidos dos países atrasados. Nos Estados Unidos, a produtividade já superou os US$ 55 por hora, enquanto no Brasil não passa dos US$ 11 por hora.

Essa comparação ilustra o quanto o país está longe de deixar a pobreza pra trás, oferecer um bom padrão de bem-estar social aos mais de 50 milhões de pobres e melhorar a renda média de toda sua população de 212,5 milhões. O PIB anual nada mais é que o resultado da multiplicação da produtividade pelo número de horas trabalhadas pela sociedade no ano. Já o desemprego, além do drama social que é, significa um gigantesco desperdício de força de trabalho; logo, menor produto, menos renda e menos impostos pagos, realidade que se faz mais dramática quando, ao lado de força de trabalho desocupada, há ociosidade da capacidade produtiva instalada.

O desempenho do PIB em 2021 é essencial para a arrancada inicial no pós-recessão e, se a recuperação atingisse 4,5% de crescimento sobre 2020, o Brasil voltaria a ter neste ano um produto total praticamente igual ao de 2019, considerando que, conforme as primeiras informações, a queda do PIB em 2020 foi de 4,5%, bem inferior à previsão mais pessimista, que era de 9%. A preocupação que vem incomodando as autoridades econômicas, inclusive o presidente do Banco Central, conforme suas declarações, é que a retomada pode demorar um pouco mais e, já indo para o fim do segundo mês do ano, o tempo para o PIB crescer vai se reduzindo.

Nesse sentido é que o ritmo da vacinação se torna fundamental, pois será em função da velocidade de imunização da população e da confiança no retorno às atividades que a produção crescerá mais, ou menos. O valor do tempo e a necessidade de o país não perder um único mês quanto ao crescimento do PIB resulta da recessão de 2020, mas também decorre de outros fatores presentes na vida brasileira: o aumento da população que, mesmo com a queda na taxa de natalidade, ainda deve aumentar em torno de 1,4 milhão de habitantes por ano; e os efeitos ainda presentes da recessão de 2015 e 2016.

Nos últimos seis anos, o Brasil passou três anos em recessão, enquanto a população seguia aumentando, combinação essa que agrava a redução do produto por habitante e impossibilita a diminuição da pobreza. Nesse cenário é importante haver consciência entre empresários, profissionais, intelectuais, políticos e autoridades públicas de que o fator tempo é o elemento principal tanto para definir a produtividade (o quanto o conjunto do país consegue produzir por hora trabalhada) como para adotar normas e práticas que impeçam o desperdício do tempo e ajudem a melhorar o uso do dele. Para isso, um papel importante é desempenhado pelo desenvolvimento tecnológico, inovações, qualificação profissional e hábitos culturais condizentes com o bom uso do tempo como fator de produção econômica e ganhos sociais, além da necessidade de apressar a tramitação dos projetos econômicos enviados ao Congresso Nacional para análise e votação.

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