Ouça este conteúdo
Na terça-feira, o IBGE divulgou os números do Produto Interno Bruto do terceiro trimestre de 2024: alta de 0,9% na comparação com o trimestre anterior, de 4% em comparação com o mesmo período de 2023, e de 3,1% no acumulado de 12 meses. Mesmo representando uma desaceleração em relação aos dois primeiros trimestres do ano, o PIB do terceiro trimestre veio ligeiramente acima das expectativas do mercado, que previam uma alta de 0,8%, reforçam a percepção de que a economia brasileira deve crescer acima de 3% este ano, um número que teria tudo para ser bastante comemorado em conjunto com o atual nível de desemprego, de 6,2%. No entanto, preocupa perceber qual é o motor desse crescimento, bem como constatar que outros indicadores estão subindo a velocidades bem maiores que a do PIB.
Por mais que no terceiro trimestre a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, que mede o investimento produtivo) tenha crescido mais que o consumo das famílias e o consumo do governo – respectivamente, altas de 2,1%, 1,5% e 0,8% –, o quadro mais amplo mostra que a aposta do governo ainda é o estímulo à economia pela via do consumo. Quando se observa o acumulado dos últimos 12 meses, a ordem muda: o consumo das famílias passa a liderar com alta de 4,5%, seguida pelos 3,7% da FBCF e pelo consumo do governo, com 2,9%. Além disso, enquanto o investimento produtivo sofre com oscilações, o consumo das famílias cresceu em todos os sete trimestres de Lula 3 e o consumo do governo só recuou em um deles. E a taxa de investimento, atualmente em 17,6%, continua muito inferior aos 25% tradicionalmente definidos como o nível necessário para garantir um crescimento robusto e longevo, exatamente aquilo que de que o Brasil precisa.
Outros indicadores, como a inflação e a dívida pública, estão subindo a velocidades bem maiores que a do PIB
Estímulo ao consumo – dos governos e das famílias – com investimento e poupança abaixo do necessário é algo que o Brasil já viu no passado recente. Dilma Rousseff também apresentou bons números no PIB em 2011 e 2013, quando a “nova matriz econômica” gestada no segundo mandato Lula começou a funcionar com força total. Ao longo de 2014, o desemprego também esteve na casa dos 6% durante praticamente todo o ano. O artificialismo desse crescimento não tardou a explodir na forma da crise de 2015-16, a pior da história brasileira, e que não foi superada nem mesmo pelo estrago causado pela Covid-19.
As semelhanças não terminam aí, pois 2014 foi o primeiro ano de uma sequência de déficits primários que só foi rompida em 2022, com o governo federal voltando ao vermelho no ano passado. E a gastança está fazendo vários outros indicadores superarem o PIB, a começar pela inflação, que está perigosamente acima do limite superior da banda de tolerância estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, com 4,76% no acumulado de 12 meses até outubro. A Dívida Bruta do Governo Geral deve terminar o ano em 80% do PIB, segundo o mais recente Relatório de Acompanhamento Fiscal da Instituição Fiscal Independente, vinculada ao Senado, contra 74,42% no fim de 2023, um avanço de pouco mais de 5,5 pontos porcentuais e uma situação muito pior que a do início do segundo governo Dilma, em 2015, quando a DBGG correspondia a 57% do PIB.
Isso ajuda a compreender por que a divulgação dos dados do PIB do terceiro trimestre não entusiasmou o mercado financeiro como costuma ocorrer quando indicadores positivos vêm à luz. O dólar, por exemplo, que deu um salto recente e superou os R$ 6 com a decepção em torno do pífio pacote fiscal de Lula e Fernando Haddad, não recuou. Em outras circunstâncias, com um governo fiscalmente responsável, amigo da liberdade econômica e avesso a intervencionismos, números como os do PIB e o do desemprego poderiam ser comemorados sem ressalvas. Mas não é o caso neste momento.