Que o sindicalismo brasileiro vive momentos complicados, exigindo uma revisão crítica para ajustar o rumo, quase todos sabem. Os tempos mudaram, o próprio movimento trabalhista é outro, hoje, e passa por constante mutação. Mas daí, dessa crise de identidade ao que foi documentado pela reportagem da Gazeta do Povo, na edição de ontem, ao acompanhar a greve dos bancários de Curitiba e região metropolitana, a situação resvalou para um terreno, no mínimo, insólito, que poucos imaginariam. Boa parte dos piqueteiros em ação diante de agências bancárias não faz parte do sindicato. São pessoas totalmente alheias à categoria. Mediante pagamento de um cachê de R$ 40, com direito a dois sanduíches de presunto e queijo, dão mais massa as manifestações públicas dos bancários. Não se trata, aqui, de questionar o direito de greve, muito menos de contestar as reivindicações dos que trabalham em bancos, mas de lamentar o uso de figurantes em momento tão sério e relevante para a categoria. Depois do "profissional da fila", aquele que vende o lugar para quem não está disposto a amanhecer diante de uma repartição pública para ser atendido no mesmo dia, eis que surge o "profissional do piquetismo". São os tempos do sindicalismo de ar-condicionado.

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