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Salvo pelo mais que provável aparecimento de candidatos sem nenhuma expressão, lançados no mais das vezes apenas para servir de linha auxiliar dos grandes partidos, a eleição para a Presidência da República poderá se realizar sob intenso clima de plebiscito. Com a recente retirada do nome do deputado Ciro Gomes (PSB) como um dos postulantes, o cenário atual mostra-nos apenas dois concorrentes viáveis – a ex-ministra Dilma Rousseff, do PT, e o ex-governador paulista José Serra, do PSDB. Uma terceira candidatura, a da ex-ministra e senadora Marina Silva, do Partido Verde (PV), embora respeitável por sua história de luta em favor do meio ambiente, não parece ainda ter peso suficiente para tirar do próximo pleito o seu caráter plebiscitário.

Se definitivamente configurado tal quadro, o eleitor será colocado diante de apenas duas grandes opções – ou vota na candidata situacionista, a ex-ministra Dilma Rousseff, do PT, ou em José Serra, o ex-governador de São Paulo que representa as correntes de oposição. No fundo, o pleito passa a ter a "cara" de um plebiscito, como, aliás, parecem propositalmente querer fazer crer os estrategistas das duas campanhas. Quer-se oferecer ao eleitorado uma escolha de caráter nitidamente maniqueísta, uma luta entre o bem e o mal.

Assim, de acordo com os sinais que vêm sendo insistentemente emitidos pelos discursos, pretende-se levar o eleitor a optar entre aprovar Lula – caso vote em Dilma – ou em protestar contra "o que aí está", caso se escolha José Serra. O contrário é também verdadeiro: votar em Serra pode significar apoiar a era dominada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, da mesma forma que, em se votando em Dilma, tal opção representará uma condenação ao passado.

Trata-se, portanto, de uma discussão que se afigura pobre, mesmo porque serão colocadas sobre a mesa diferenças situadas na superfície das grandes questões nacionais, mais adequadas para o trabalho de marketing do que a debates de maior profundidade. Nesse sentido, um bom exemplo do que vem por aí envolve o programa Bolsa Família, transformado inapropriadamente em divisor de águas entre os governos FHC e Lula: quem é a favor dos pobres atendidos pelo Bolsa Família vota em Dilma Rousseff; os que são contra, em Serra. O que, logicamente, leva a oposição interessada no ma­­nancial de votos dos assistidos pelo programa a manifestar-se igualmente a favor.

Se não esse tema, há outro que se levanta a todo momento, uma espécie de disputa sobre quem feriu mais a ética, quem desviou mais recursos públicos, quem cometeu mais "erros" – eufemis­­mo muito usado atualmente para substituir definições mais precisas de crimes. Às acusações de que a privatização de estatais foram marcadas pela corrupção, responde-se com a lembrança dos mensalões. E, assim por diante, é inesgotável o repertório de que cada um dispõe.

É esse o tipo de debate que teremos nesses meses que antecedem a eleição de outubro? É razoável? É construtivo? A dominância desse provável cenário, enriquecido certamente por nuances outras e golpes baixos típicos de campanha, com a mais absoluta certeza não é o que o país merece e ao qual o eleitor deva ser submetido. Melhor seria a discussão profunda de temas relevantes que influam sobre o futuro da nação, que digam respeito à qualidade de vida da população; ao crescimento com melhor distribuição de renda; aos meios de combate à violência; à melhoria da qualidade da educação e dos serviços de saúde; à superação dos gargalos de infraestrutura; o respeito aos direitos humanos; à inserção efetiva do país como protagonista das relações mundiais...´

São propostas com esse nível de qualidade que devem ajudar o eleitor a se decidir, a melhorar sua consciência cívica e a tratar com maior respeito o seu próprio voto. Daí a importância do instrumental de informação que o Grupo RPC propõe-se a fornecer aos eleitores neste período que antecede o pleito de outubro. Será uma contribuição para que os brasileiros, sobretudo os que vivem no Pa­­raná, desvencilhem-se das armadilhas do maniqueísmo em que querem lançá-lo.

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