Em se plantando, tudo dá. Hoje, no entanto, não basta apenas plantar. A questão do armazenamento ganha vulto no país, principalmente quando o Brasil promete dobrar a sua produção de alimentos em dez anos, enquanto o resto do mundo pretende fazer isso até 2050. O problema dos armazéns está sendo discutido no 6º Simpósio Paranaense de Pós-Colheita e no 5º Simpósio Internacional de Grãos Armazenados, que terminam hoje no Centro de Eventos de Ponta Grossa.

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O desafio da classe produtiva é aumentar a qualidade e a quantidade, e isso envolve também setores do governo, de modo a elevar o poder de barganha do agronegócio com a modernização do sistema de armazenagem. De nada adiante aumentar a capacidade estática dos armazéns, como lembra o presidente da Abrapos (Associação Brasileira de Pós-Colheita), Irineu Lorini. É preciso fazer isso com qualidade, já que "não é a mesma coisa que guardar alimentos numa geladeira desligada". Por causa de deficiências da rede de armazéns, as perdas médias na pós-colheita são de 10% no país, para uma produção de 145 milhões de toneladas de grãos. Além da construção apropriada, é preciso que os armazéns sejam operados por pessoas capacitadas.

Atualmente, o país não consegue armazenar nem sequer uma safra inteira. A capacidade é de 124 milhões de toneladas, e a safra aproxima-se cada vez de 150 milhões de toneladas. Resultado é que os produtores têm de vender os produtos logo após a colheita.

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Há casos a serem lembrados: o trigo colhido no ano passado no Paraná lotou muitos armazéns. Os moinhos, que estavam cheios, não queriam comprar, e o produtor também não queria vender, já que os preços estavam baixos. Na colheita de milho e soja de verão – já em 2009 –, os agricultores tiveram de optar: ou vendiam o trigo ou os outros grãos. Não havia espaço para armazenamento. Colocado em xeque, o produtor brasileiro não tem condições nem de cogitar o emprego de ferramentas como o mercado futuro, amplamente explorado nos Estados Unidos. O produtor devidamente capitalizado, que poderia se dar ao luxo de negociar a safra e ganhar na comercialização (muitas vezes se ganha mais ao escolher a hora certa da venda), precisa de armazéns à disposição, mesmo que para mantê-los vazios em determinadas situações.

Os armazéns públicos servem de instrumento para o controle de preços pelo governo, evitando que as oscilações de uma época instável como a atual afetem o mercado interno.

Nos Campos Gerais, no Centro e no Norte do Paraná, produtores decidiram investir cada vez mais em armazéns próprios, aplicando o modelo norte-americano. Investem alto na qualidade da armazenagem, controlando a temperatura que os grãos necessitam para a secagem correta, aquela que não elimina os nutrientes. O resultado são preços melhores, até 10% a mais.

É a prova de que os armazéns fazem a diferença, como a Gazeta do Povo mostrou em reportagens publicadas no caderno Caminhos do Campo. O Paraná é palco hoje da discussão em torno da armazenagem. Não sem motivo: com menos de 3% do território nacional, responde por 22% dos grãos produzidos pelo país.

Não é pouco, mas poderá ser bem mais.

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