As manifestações dos ambientalistas sobre a aprovação da reforma do Código Florestal na Câmara dos Deputados alertam que o país está abrindo brechas ao desmatamento. Já do ponto de vista dos representantes dos produtores rurais, as alterações trarão ganhos ambientais por tornarem possível a regularização das propriedades agropecuárias. A distância entre essas duas avaliações espalha incertezas sobre o tema. Porém o que vai determinar os efeitos das mudanças não são esses posicionamentos, mas a aplicação da nova legislação.
O Código atual, de 1965, jamais foi integralmente implantado. As próprias organizações da agropecuária estimam que 90% dos proprietários de imóveis rurais estão em situação irregular. Ou seja, o país está entre uma legislação ambientalista, mas sem efeito prático satisfatório, e outra adaptada à realidade do campo, que ainda depende de aprovação no Senado e de sanção da presidente Dilma Rousseff. O que é melhor? Uma lei ambientalista pouco aplicada ou uma legislação menos exigente porém mais difundida? Neste momento, o país está optando pela segunda hipótese.
Nas discussões sobre a reforma, pouco se falou sobre os motivos que dificultam a aplicação do Código de 1965. Trata-se de questões complexas, que envolvem problemas sociais como a pobreza rural, o constante risco de migração da população do campo para as cidades, a falta de respaldo técnico das exigências legais e a própria precariedade da estrutura de fiscalização.
Ao tornar possível a regularização dos imóveis rurais, o Código não vai resolver boa parte desses problemas. Porém a implantação das novas leis promete instalar uma cultura da preservação mínima. A partir de um ambiente em que a legislação passa a ser aplicada, fica mais fácil inclusive fiscalizar. Da mesma forma que não se deve ampliar o desmatamento, também não se pode permitir que o descontrole prevaleça.
As mudanças tornam, sim, mais fácil o cumprimento da legislação. Reduzem exigências à agricultura familiar e abrem exceções para áreas de produção consolidada. É como se o governo admitisse que permitiu e, em determinados momentos, incentivou a exploração de terras legalmente protegidas e que, com o tempo, tornaram-se essenciais para a produção de alimentos e a sustentabilidade da economia rural. Ou seja, essencialmente, não se trata de legalizar a destruição das florestas, mas de colocar o assunto em pratos limpos e impedir a exploração das matas preservadas.
A posição da presidente Dilma Rousseff, contrária a qualquer medida que perdoe crimes ambientais ou incentive novos desmatamentos, promete reduzir o risco de a nova legislação ganhar caráter permissivo em sua aplicação. Com a reforma ainda em andamento, a chefe do Executivo tem o poder e a missão de aparar arestas, de avaliar os riscos reais do novo Código. Para os representantes dos agricultores, a presidente está inclinada a atender reivindicações dos ambientalistas, que se sentiram derrotados na votação da Câmara.
O texto aprovado pelos deputados abre exceções, mas também impõe exigências ainda não cumpridas. Mesmo nas propriedades de até quatro módulos fiscais que somam em média 74 hectares no Paraná, ou seja, representam a maioria das unidades produtivas no estado , as margens de rios devastadas terão de ter a vegetação recomposta. Deverão ser preservados ao menos 15 metros de cada lado dos rios mais estreitos.
Os produtores com áreas maiores, por sua vez, não terão como escapar da preservação. A reserva legal foi mantida em 20% na região dos campos e da Mata Atlântica. No processo de regularização, que deve seguir a aprovação do novo Código, boa parte dos produtores terá de ampliar sua área verde.
O controle do desmatamento nas grandes florestas continuará colocando à prova a fiscalização. Fotos de satélite usadas pelos órgãos ambientais mostram que o problema é real em todas as regiões do país. A destruição, no entanto, não pode ser atribuída à suposta permissividade do Código em votação. Se as leis estivessem sendo simplesmente flexibilizadas, não haveria razão para os desmatadores manifestarem pressa.
A responsabilidade dos legisladores que participam das discussões é imensa, não só porque suas decisões estão determinando o tamanho das florestas do país, mas também pelas consequências da ampliação ou da redução das áreas verdes. As mudanças climáticas e a vida das próximas gerações estão em jogo. O que o Brasil precisa é de uma legislação aplicável, clara e sólida, capaz de provar que as avaliações alarmantes estão erradas.
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