Apurados todos os votos das eleições municipais do último domingo, partidos e analistas políticos fazem todos os tipos de contas possíveis: número e relevância de prefeituras conquistadas, votos obtidos, ou alianças a buscar no caso daqueles que avançaram ao segundo turno em cidades maiores. E, mesmo que haja muitas prefeituras ainda em jogo, em municípios importantíssimos, os dados que emergem do pleito já permitem apontar algumas tendências, especialmente para quem está mirando um outro processo eleitoral – o que ocorrerá daqui a dois anos, quando o PT de Lula será desafiado pela direita, com os aspirantes a herdeiros do capital político do ex-presidente Jair Bolsonaro medindo forças desde já.
O petismo, que passou de pedra em 2020 para vidraça em 2024, após quase dois anos de governo Lula 3, colheu resultados agridoces. Quatro anos atrás, já contando as disputas vencidas em segundo turno, havia eleito 183 prefeitos. O número subiu para 265 no intervalo entre as duas eleições municipais, graças a filiações de prefeitos vindos de outras legendas, e vices petistas que assumiram no lugar de titulares que deixaram o cargo por motivos variados. Agora, o PT garantiu 248 prefeituras e disputa mais 13 segundos turnos. O desempenho foi inferior ao esperado pela legenda, que corre o risco de repetir 2020 e ficar sem nenhuma capital de estado. O petismo ainda sofreu derrotas em redutos históricos, como seu berço, o ABC paulista; e perdeu para o PL em São Leopoldo (RS), palco dos espetáculos de Lula em meio à enchente no Rio Grande do Sul. Ironicamente, a maior esperança do PT, partido que nunca abriu mão de sua posição de liderança na esquerda brasileira, não está nos seus quadros: é Guilherme Boulos, do PSol, que está no segundo turno em São Paulo com apoio de Lula. Sem lideranças de sucesso em cidades relevantes, um eventual processo de renovação da legenda sai prejudicado.
O Centrão, capitaneado pelo PSD, continua firme no papel de “noiva cobiçada” para 2026
Na ponta oposta está o PSD de Gilberto Kassab, partido cuja desenvoltura (ou falta de personalidade) política o torna capaz de integrar tanto o governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo (com o próprio Kassab) quanto o ministério de Lula. Apesar de uma campanha de boicote movida por setores da direita em protesto contra a inação do senador Rodrigo Pacheco em pautar processos de impeachment de ministros do STF, o PSD se sagrou campeão em número de prefeituras conquistadas (882), posto que sempre fora do MDB desde a redemocratização. Venceu já no primeiro turno no Rio de Janeiro (com apoio de Lula), em Florianópolis e em São Luís, e está no segundo turno em Curitiba (com apoio de Bolsonaro) e Belo Horizonte, além de outras cidades importantes em estados como São Paulo, Paraná e Minas Gerais. Neste primeiro turno, foi o segundo partido a receber mais votos para prefeito: seus candidatos foram escolhidos por 14,5 milhões de eleitores.
O vencedor neste quesito foi o PL, ao qual Bolsonaro se filiou no fim de 2021, após não ter conseguido viabilizar a própria legenda: os candidatos a prefeito do partido receberam 15,7 milhões de votos. O PL garantiu 511 prefeituras, ficando apenas em quinto lugar, mas, quando se trata apenas dos municípios grandes, com mais de 200 mil eleitores, os dez eleitos deixam o partido na liderança, com outros 23 candidatos disputando o segundo turno, incluindo nove capitais. Além disso, candidatos de outros partidos apoiados por Bolsonaro seguem na disputa, como Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo.
Para além dos dois partidos (e pessoas) que dominam a política nacional, o fato é que o Centrão, capitaneado pelo PSD, continua firme no papel de “noiva cobiçada” para 2026. Se é verdade que o comando de cidades grandes traz prestígio a um partido, cada prefeitura pequena também é um palanque que não pode ser desprezado em uma disputa que promete ser tão acirrada quanto a de 2022 – desde, claro, que os eleitos façam um bom trabalho para que seu futuro apoio seja uma vantagem, e não um peso para postulantes aos principais cargos de seus estados e da nação.