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O governo federal concluiu o leilão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília, numa demonstração de que a presidente Dilma Rousseff concluiu que a teimosia ideológica de seu partido, o PT, não pode condenar o país a viver o caos na infraestrutura física. O número de passageiros recebidos nos aeroportos brasileiros dobrou de 2005 até hoje, chegando a um total de 180 milhões de passageiros em 2011. Foi preciso a situação transformar-se em colapso para que o governo resolvesse abandonar os dogmas do PT e entender que sem o dinheiro de investidores privados nacionais e estrangeiros a situação ficaria insustentável em pouco tempo.

Não se sabe se o PT mantém posição dogmática contra a "privatização" apenas porque isso virou bandeira eleitoral contra o PSDB ou porque o partido acredita mesmo que a privatização seja um mal para a economia brasileira; ou ainda por apreço fisiológico ao inchaço da máquina pública em que os caciques e os militantes do partido gostam de buscar gordos cargos. Felizmente, a presidente Dilma percebeu aquilo que seu partido se nega a enxergar: a infraestrutura brasileira está destruída e o setor público não tem dinheiro para superar a trágica defasagem de investimentos em setores como energia, transportes, portos, aeroportos, armazenagem e telecomunicações.

Sem o auxílio de capitais privados nacionais e estrangeiros para a realização de obras nesses setores, o crescimento econômico brasileiro cessará em poucos anos, pois o caos instalado em quase todas as áreas que estão nas mãos do governo é notório e em acelerada deterioração. No caso dos aeroportos, além de permitir investimentos rápidos em projetos essenciais para o país, a concessão dos aeroportos para operação pela iniciativa privada renderá R$ 24,5 bilhões aos cofres públicos em alguns anos, o que é quase metade de tudo que o governo investe em um ano.

Nos anos 70, os economistas e os líderes do PMDB gritavam enfurecidos contra as privatizações brandindo razões de segurança nacional. Eles acreditavam que, se a lei permitisse investimento privado (inclusive de empresários brasileiros) em projetos de infraestrutura, o Brasil correria o risco de perder sua soberania e se tornar uma nação refém do grande capital e das multinacionais. Como esse argumento foi, ao longo do tempo, revelando toda sua estupidez, o PT assumiu a bandeira antiprivatização sem dar explicações técnicas racionais para suas posições, limitando-se a dizer que privatizar era contra os interesses populares. Tanto o PMDB dos anos 70 quanto o PT dos anos 90 nunca foram dados a fazer contas nem a examinar os aspectos econômicos de suas crenças.

Embora com grande atraso, o PT no governo resolveu fazer aquilo que sempre combateu, apesar de o partido ficar tentando o malabarismo de dizer que suas privatizações melhoram a vida do povo enquanto as privatizações de seus opositores beneficiam o grande capital. Controvérsias eleitorais à parte, é bem-vinda a decisão da presidente Dilma de levar adiante o programa de concessão dos aeroportos, o que não significa privatizar o patrimônio público no sentido de vendê-lo ao setor privado. A concessão dos aeroportos para o setor privado fazer a operação das atividades e a ampliação da capacidade é um modelo que transfere para os consórcios vencedores das licitações o domínio sobre os ativos estatais, retirando o governo dos investimentos e da gestão. Enquanto perdurarem os contratos de concessão, o Estado não entrará nas áreas transferidas ao setor privado, e é isso que incomoda tanto alguns políticos amantes das sinecuras estatais.

Quanto à licitação em si, há de mencionar o êxito do processo, que deu ao governo um ágio de 347% sobre o lance mínimo estabelecido nos editais. Vozes tímidas surgiram para insinuar que a avaliação do governo estava muito baixa, coisa que o Tribunal de Contas da União (TCU) já havia mencionado. Apesar de ter manifestado contrariedade por grandes empresas estrangeiras experientes em gestão de aeroportos não terem ganho as licitações, a presidente Dilma deve estar sorrindo por não ter de arrumar dinheiro para fazer os altos investimentos que os três aeroportos leiloados exigem e por contar com R$ 24,5 bilhões de receitas para o governo. Vencida a barreira política e ideológica de seu próprio partido, o governo poderá estender o modelo de concessão para outros aeroportos e para outras áreas, em especial para os portos e obras no sistema de transportes.

Há duas vantagens adicionais que merecem destaque: a oportunidade de o país poder comparar o grau de eficiência do governo e do setor privado na gestão de aeroportos, de um lado, e a redução do nível de corrupção que sempre marcou a vida da Infraero, de outro. Porém o resultado maior a ser comemorado é que talvez o Brasil comece a sair das trevas em sua infraestrutura física e consiga recuperar pelo menos parte do atraso imenso que se instalou nesse setor por causa de ideias atrasadas do PT.

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