Reunido em São Paulo durante a passagem do Dia da Indústria, o empresariado industrial reclamou maior interesse do governo e da sociedade para com a produção, apontada como fundamental para o desenvolvimento sustentável do país. Mas se a economia permanecer travada pela política de juros altos, carga tributária excessiva e estagnação das reformas o investimento continuará escasso e, por conseqüência, o baixo investimento persistirá, com os efeitos conhecidos – crescimento modesto, persistência de bolsões de pobreza e instabilidade social.

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A esperança do setor produtivo nas últimas semanas era que as autoridades haviam se convencido da necessidade de ajustes na legislação cambial, via correção das distorções que tornaram nossa moeda a mais valorizada ante o dólar. Para o deputado e ex-ministro Delfim Netto, a política de juros altos converteu o real em um produto de transação, uma "commodity" adquirida por especuladores para lucrarem em operações de arbitragem – troca de suas divisas nativas por reais aplicados em especulação financeira.

Essa situação representa uma armadilha que amplia a vulnerabilidade externa do Brasil, como se viu na recente turbulência dos mercados financeiros – acusa o ex-ministro. Para atenuar tais efeitos, o empresariado vem defendendo a necessidade de manutenção do cronograma de baixa paulatina dos juros e flexibilização das normas sobre fechamento de câmbio por empresas exportadoras. Mas a agitação da semana passada poderá levar as autoridades a frearem essas mudanças, como sinalizou sexta-feira o próprio presidente da República.

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O cenário pós-turbulência, contudo, é de falsa segurança: no Paraná, o sindicato da indústria metalúrgica acena com quebra de até 40% nas vendas devido ao enfraquecimento das encomendas no setor automotivo; os agricultores não se sentiram atendidos com o "pacote" anunciado pelo governo; a taxa de desemprego se eleva desde o início do ano e a queda de confiança do consumidor persiste mesmo na véspera da Copa do Mundo – quando ocorre um "boom" de mercado.

Em recente pronunciamento na Federação das Indústrias, em Curitiba, o empresário Paulo Cunha disse não haver surpresa no declínio do crescimento, que continuará se agravando se as reformas não forem feitas (redução da despesa do governo, ajuste tributário etc). É que o Brasil apresenta um binômio perverso de câmbio baixo e juro alto, em linha oposta à que gerou o crescimento do Japão, China e mais países emergentes. Paulo Francini, diretor da Federação das Indústrias de São Paulo acrescenta que a política de controle da inflação via juros e a alta carga de impostos promovem um "garrote" na economia.

O cenário pede mudanças, entre as quais um verdadeiro "choque de produção". Ao substituir a economia de escassez pela ampliação da oferta de alimentos, produtos industriais e serviços, ele terá como efeito a estabilização de preços, conjugada com a expansão do emprego e criação da prosperidade.