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Os eleitores brasileiros que se preparem: vem aí a velha cantilena das promessas de campanha, com a grandiloqüência e as soluções mágicas de sempre. Os próximos quatros anos, dirão os candidatos, serão dedicados a transformar o Brasil num novo jardim do éden, com muito crescimento, emprego para todos, nenhuma inflação, juros irrisórios, justiça e igualdade sociais, segurança pública impecável e muitos, muitos investimentos em hospitais, estradas, usinas, portos... Os eleitores precisarão estar alertas para a falácia dessas promessas – impossíveis de ser cumpridas se os candidatos não se comprometerem também em sufocar a tentação que a todos acomete quando assumem o mandato, isto é, de gastar com a máquina pública o que não podem.

É consenso indiscutível de que os altos juros que predominaram na economia brasileira nas últimas décadas cercearam as possibilidades de o Brasil acompanhar o crescimento mundial. Fomos passados para trás até por países antes aparentemente condenados a arder no fogo eterno do subdesenvolvimento e da pobreza, como é o caso, por exemplo, da Índia e da China. Na América Latina só não perdemos para o humilde e conflagrado Haiti.

Discutir crescimento não é uma questão acadêmica. Trata-se de entender que é só por meio dele que a vida dos cidadãos ganha chances reais de melhorar. Depende dele a criação de empregos – e estes, quanto mais abundantes e mais bem remunerados, mais contribuirão para superar a fome e a subnutrição, para melhorar o acesso à educação, para reduzir os índices de violência e de criminalidade, para garantir mais saúde.

O Estado não tem como assegurar todos esses benefícios. Não há recursos para tanto. Já não há espaço, sob pena de sufocar por completo a economia, para aumentar impostos destinados a custear programas sociais tão abrangentes. É igualmente impensável, simplista e demasiadamente perigoso declarar uma moratória da dívida para empregar os recursos em projetos de desenvolvimento – pois que, ensina-nos a experiência, atitude assim costuma cobrar a curto prazo preço alto demais de toda a sociedade.

Juros são um componente importante nas estratégias macroeconômicas. Mas, mais do que um remédio de múltiplo uso, o juro é o efeito de doença muito grave: o desmazelo com que, sucessivamente, os governos têm se havido com o gasto público. Gastar em excesso, como sabe qualquer dona de casa, é a causa do endividamento e, endividadas, as famílias buscam no crédito bancário a solução para o desequilíbrio. E nele se enrolam ad aeternum, obrigando-se a pagar juros cada vez maiores para endividar-se cada vez mais em ritmo de bola de neve. Decreta-se, desta forma, o fim do sonho da casa própria, do carro novo... já não se investe no bem-estar da família.

Esta é também a história do Brasil. Gastou-se tanto, muito além do que os impostos recolhidos podiam pagar, que hoje o país não tem como realizar investimentos imprescindíveis ao desenvolvimento e à criação de ambiente favorável aos empreendimentos privados. O resultado é o que vemos hoje: crescimento pífio, muito menor do que seria possível face as vantagens comparativas que detemos.

Portanto, o que se sugere ao eleitor é não acreditar nas promessas fáceis que virão e dar mais ouvidos a quem prometer sangue, suor e lágrimas – o que significa cortar profundamente o desperdício de recursos públicos, promover as reformas fundamentais necessárias para estancar os ralos orçamentários e abrir espaço, aí sim, para os investimentos. O resto deve ser encarado como conversa fiada.

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