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O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), criado em 1998 pelo Ministério da Educação para avaliar o desempenho do aluno ao término da escolaridade básica, se vê diante de um fenômeno que é apontado como ameaça à sua finalidade: o surgimento dos cursinhos preparatórios para o exame. Teme-se que, com a preparação extra, fique difícil saber se os resultados obtidos decorrem do conhecimento acumulado ou se são fruto do esforço concentrado dos cursinhos. Veladas, as deficiências do ensino não seriam corrigidas – e a ferramenta de avaliação perderia seu principal propósito.

Em 2007, o Ministério da Educação registrou recorde de inscritos (3.568.592 de estudantes) e participantes (2.738.610) no Enem. Este ano, o exame será aplicado em cerca de 900 municípios de todo o país. O interesse e a participação estudantis cresceram por uma razão bastante pragmática: o Enem passou a ser reconhecido com um passaporte para a entrada no ensino superior. Já são mais de 500 as instituições de ensino superior do país que utilizam os resultados do exame em seus processos seletivos. O bom desempenho dos candidatos pode garantir bolsas no Programa Universidade Para Todos (ProUni). Desde 2004, os estudantes que ingressam no ProUni têm o curso universitário em faculdade particular pago integral ou parcialmente (50%), em troca da isenção de impostos oferecida pelo governo federal às instituições vinculadas ao programa. Como se vê, a mesma característica que atraiu os jovens para o Enem – o acesso ao ensino superior – fez com que surgissem os cursinhos preparatórios.

Na recente reportagem da Gazeta do Povo sobre o tema, professores e pedagogos alertam para as conseqüências do fenômeno, temendo que não possa mais haver uma avaliação justa e plena do ensino. O risco existe, mas há meios de afastá-lo. Há, nessa discussão, um elemento que não pode ser negligenciado: o modelo de avaliação adotado pelo Enem foi desenvolvido com ênfase na aferição das estruturas mentais com as quais os estudantes aprimoram continuamente o conhecimento. A meta não é apenas quantificar o que está retido na memória. Nos cursinhos, ao contrário, o foco principal é a revisão dos conteúdos já vistos e a memorização, que está dissociada da aquisição do conhecimento de longo prazo. Dificilmente uma boa nota no exame será fruto, única e exclusivamente, da passagem pelo cursinho.

Ao completar mais de uma década, o Enem já conquistou o respeito da comunidade educacional. Sua aplicação mostra o amadurecimento do ensino brasileiro, que não busca mais ocultar as falhas, mas identificá-las para fazer a correção de rumo. O exame também está associado à política de inclusão universitária para um número maior de brasileiros. Não é pouca coisa.

O empenho dos estudantes para se preparar melhor tem seu valor e, com exames bem dimensionados, as aulas extras não haverão de afetar o valor da ferramenta avaliativa. O caminho parece apontar para a consolidação de algo que já se vê no Enem: a abolição da "decoreba" e a apresentação maciça de questões capazes de medir o pensamento crítico dos nossos estudantes.

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