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Apostando que o pior já passou, o vice-presidente José Alencar reafirmou, na terça-feira, na condição de presidente em exercício, que a posição do Brasil é tranqüila quanto aos efeitos da crise internacional. E não perdeu a chance, enquanto o presidente Lula estava em viagem, de abrir fogo contra o seu alvo recorrente: os juros altos. O país vai muito bem, "apesar da política monetária", fulminou.

Alencar defendeu com maior ênfase a necessidade de redução da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 13,75% ao ano. Para ele, se estamos preocupados com qualquer coisa ligada à recessão, uma das providências é baixar os juros. Afinal, com a ameaça de falta de liquidez bancária, os juros para o consumidor já subiram muito – e isso é "perigoso". Evidentemente, o vice acredita que a taxa de juros elevada para combater a inflação é um instrumento correto, empregado em todo o mundo, mas, como sempre, há que se fazer uma ponderação. Se faz necessário tipificar a inflação na qual a correção é aplicada. "É como remédio, você não pode ministrar um medicamento para um paciente antes de um diagnóstico correto", comparou. O "medicamento" taxa de juros alta é recomendado para combater inflação de demanda, e o Brasil, como diz, é um país de subconsumo. Mantendo a mesma moldura da linguagem simples, lembrou que não se pode achatar o consumo de quem não consome. Assim, a política monetária equivocada também se torna inócua nesse particular. Em sua opinião, é a vontade nacional que poderá dar força para que mude o cenário, "porque nem todas as pessoas enxergam ao mesmo tempo, algumas enxergam antes".

De fato, a queda dos juros reais, puxada pela redução da Selic, daria um efeito mais rápido e eficaz à oferta de crédito do que mexer, como tem sido feito, no depósito compulsório. O risco dessa medida é a pressão inflacionária.

Na ponta oposta, o Banco Central permanece focado – ou hipnotizado – na inflação como a principal das questões. Já teria, inclusive, engatilhado nova alta dos juros em face da valorização do dólar e dos reflexos do câmbio nos preços internos, com as importações.

O país não está sob o fio da navalha, conclusão referendada por observadores como o economista chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Rubens Sardenberg, para quem a posição do Brasil é "confortável". No entanto, alerta que, fatalmente, haverá uma certa desaceleração da atividade econômica mundial, implicando num crescimento menor das operações de crédito e da economia brasileira. Sobre o comportamento das autoridades monetárias, Sardenberg diz que o BC já vinha tentando reduzir a demanda "por conta das pressões inflacionárias e porque a economia estava crescendo muito". Elevando os juros, o BC controlará o câmbio e a inflação, mas pode colaborar para uma queda acentuada demais do consumo em um mercado já deprimido.

O certo é que o tamanho da desaceleração dependerá do resultado das medidas tomadas no exterior, como as dos países europeus, e do anúncio, pelo tesouro norte-americano, de estímulos à liquidez do sistema financeiro. Enquanto essas ações, voltadas à capitalização, não surtem o resultado desejado, não é possível conhecer a extensão exata dos efeitos domésticos da recessão mundial. Em meio a tantas incertezas, fica difícil acertar a mão na política de juros. O desafio lançado ao Banco Central é enorme, pois, seja para que lado penderem, decisões precipitadas na política monetária podem agravar perigosamente a crise. O momento pede prudência.

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