Nos últimos dias a tensão entre o ditador Nicolás Maduro e o presidente interno da Venezuela, Juan Guaidó, aumentou.
Na quinta-feira da semana passada (21), o serviço de inteligência do regime chavista prendeu Roberto Marrero, diretor do escritório de Guaidó. Marrero informou, antes de ser preso, que os agentes de Maduro haviam planado dois fuzis e uma granada na sua casa para servir de pretexto para a prisão.
Dois dias depois, aviões militares russos desembarcaram em Maiquetía, nos arredores de Caracas. Eles estariam levando uma autoridade de Defesa russa e quase cem soldados. Sendo a Rússia um dos principais parceiros econômico-militares da Venezuela, o caso alimentou especulações de que uma intervenção armada estava prestes a acontecer no país.
Nesta terça-feira (26), em Caracas, um grupo de apoiadores do regime chavista arremessou pedras e golpeou o veículo de Juan Guaidó, enquanto ele saía da sessão extraordinária da Assembleia Nacional. A sessão havia sido marcada justamente para discutir a chegada dos aviões russos, bem como o apagão que ocorreu no dia anterior, que deixou 85% da população sem acesso à energia elétrica.
Maduro conta com o apoio da grande maioria das Forças Armadas do país, o que facilita as ações de repressão
Não obstante, Maduro, através do controlador-geral da Venezuela, Elvis Amoroso, informou a Guaidó que ele estaria proibido de ocupar cargos públicos por 15 anos, segundo Amoroso, devido às inconsistências em suas informações financeiras, o que indicaria corrupção.
Maduro conta com o apoio da grande maioria das Forças Armadas do país, o que facilita as ações de repressão. E depois de perder a legitimidade perante a maior parte da comunidade internacional, tenta paulatinamente, com ações como essas, desautorizar Guaidó.
Apesar disso, o fato do ditador bolivariano não ter conseguido nada de efetivo contra o presidente interino mostra a força de Juan Guaidó como líder da Venezuela, que desde 23 de janeiro deste ano, quando, tendo constatado fraudes na eleição presidencial e seguindo a Constituição do país, declarou-se presidente.
Como reação às investidas de Maduro e com o objetivo de exigir a sua saída definitiva do poder, Guaidó convocou nova manifestação para sábado (30). O presidente interino também anunciou a “Operação Liberdade”, visando organizar a sociedade civil de forma que a uma “fase máxima de pressão” seguisse “o fim da usurpação” de Maduro. Guaidó espera que essa operação traga as forças armadas para o seu lado, elas que podem ser o “fiel da balança” no jogo de forças pelo poder na Venezuela.
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Espera-se seriamente que o país volte à normalidade democrática sem a necessidade de intervenção externa. E para isso a população venezuelana, que sofre há muito tempo com a falta de comida e remédios, bem como com os apagões frequentes, encara a difícil tarefa de ser prudente e paciente até que uma solução possa ser alcançada sem derramamento de sangue.
A comunidade internacional também pode contribuir muito para acelerar o processo de libertação da Venezuela. Cinquenta países já declaram apoio a Guaidó, incluindo EUA e Brasil, mas China e Rússia continuam a dar suporte a Maduro. É preciso que a diplomacia internacional haja de maneira constante e eficiente para encontrar uma solução para o país e, portanto, a questão precisa continuar sendo foco de atenção da política externa dos países interessados no retorno da prosperidade e da normalidade democrática da Venezuela.
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