Os diários da Assembleia Legislativa do Paraná podiam ser secretos, mas o que se conversava em alguns dos seus gabinetes e telefones não. Eles eram monitorados clandestinamente por aparelhos de escuta, alguns rudimentares, outros caros e sofisticados, segundo constatou uma varredura técnica contratada pela nova direção da Casa. A descoberta, além do espanto, gerou também a criação de uma inusitada Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada na semana que passou, pois que destinada a investigar a própria Assembleia.

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Já houve motivos bem mais sérios do que esse para que os deputados investigassem a si mesmos. A história de malfeitorias que se cometiam no Legislativo paranaense, tornadas escandalosamente públicas a partir da série "Diários Secretos" que este jornal levou a cabo no ano passado, merecia o mesmo rigor que agora se anuncia para o caso dos grampos. Entretanto, salvo honrosas exceções, a maioria dos parlamentares se recolheu em postura de conveniente silêncio.

Felizmente, a nova Mesa Executiva vem dando mostras de que pretende enterrar os maus hábitos que vicejavam há décadas nos porões do Palácio Dezenove de Dezembro. Não só reconheceu o inchaço desmedido de seu quadro de servidores, usufrutuários de nomeações indevidas e de supersalários, sem que isso, ao menos, os obrigasse a trabalhar, como também anunciou medidas concretas para dar cabo dessas irregularidades.

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Foi da nova direção também que partiu a denúncia da existência dos grampos, assim como foi de sua iniciativa que a polícia foi chamada a colaborar para o esclarecimento dos fatos. Soma-se a isso o apoio à instauração da CPI. O conjunto dessas ações – espera-se – deverá trazer à luz elementos suficientes para que não fiquem sem resposta perguntas mais do que pertinentes.

Algumas das indagações: a Assembleia comprou de fato os aparelhos cujas características técnicas foram descritas nos primeiros relatórios? Os equipamentos encontrados são os mesmos supostamente adquiridos mediante licitação? Se não são, onde (ou quem) estão aqueles que foram objeto da licitação? Num caso e no outro, quem ordenou as aquisições? Quem mais, além do ordenador, teve conhecimento da iniciativa? Quem determinou quais as linhas telefônicas que deveriam ser grampeadas e em que salas deveriam ser instaladas as escutas? De que modo juridicamente aceitável se justificavam tais escutas?

Essas, no entanto, são apenas as indagações básicas – pois o que mais interessa à sociedade é ver satisfeita a curiosidade mais óbvia que cerca este episódio: se havia escuta é porque havia alguém que escutava! Ora, se foi descoberta a ponta inicial do "fio" que conduzia clandestinamente as conversas na Assembleia, é mais do que evidente que na outra ponta havia ouvidos atentos e interessados. Interessados no quê e para quais fins? Se a CPI não conseguir chegar a tais respostas, identificando os responsáveis e encaminhando-os à punição devida, terá sido mais uma pizza.

Não é uma pizza, a par da prometida moralização geral da Assembleia Legislativa, o que a sociedade paranaense quer.