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Editorial

Racionamento & imprevidência

A partir desta sexta-feira, os quase 2 milhões de pessoas que habitam Curitiba e oito outros municípios da região metropolitana estarão sofrendo os efeitos de dois problemas: o do racionamento de água e o da imprevidência governamental. Não tivesse ocorrido este último, estaríamos hoje todos livres do primeiro.

A falta de chuvas nos últimos meses provocou o rápido esgotamento das barragens em operação. Elas não conseguem reter volumes de água suficientes para manter a regularidade do abastecimento nos períodos de estiagem, como seria desejável e necessário. Diante desse quadro, para que não sequem completamente e o fornecimento não seja completamente interrompido é que se decidiu pelo racionamento.

A solução é aparentemente lógica, plausível e deveria ser aceita pela população com a mesma platitude com que se admira uma paisagem. Mas a história é outra e requer até uma dose de indignação: o racionamento resulta de medidas que deixaram de ser tomadas na hora adequada e por causa dessa imprevidência que hoje pagamos o seu preço.

Há muito se previa que Curitiba e região estavam sujeitas a um perigoso déficit de abastecimento. Anunciava-o, a cada dia, o vertiginoso crescimento demográfico experimentado nos últimos anos, significando o acréscimo médio anual de quase 100 mil novos consumidores da água fornecida pela Sanepar. Estava claro, portanto, que, para evitar o colapso, seria necessário investir na busca de novas fontes, na construção de barragens e na expansão dos sistemas de tratamento.

Com base nessa realidade, previu-se a construção de duas importantes obras – a barragem de Piraquara II e do sistema Miringuava – que aumentariam, respectivamente, em pelo menos 40% a reserva de água e em 20% a capacidade de tratamento e fornecimento à população. Portanto, se estas obras estivessem prontas, estaríamos longe, hoje, da necessidade de racionamento, apesar da estiagem inclemente.

As obras deveriam ter sido iniciadas em 2003. O dinheiro, cerca de R$ 120 milhões, estava garantido por financiamento japonês, com sete anos de carência e juros de 4%. O processo licitatório foi concluído nos meses finais de 2002, com a escolha das empresas que seriam encarregadas de iniciar imediatamente a construção e de concluí-las no prazo máximo de dois anos.

Entretanto, a pedido dos novos mandatários do Paraná, eleitos em outubro de 2002 e com posse marcada para 1.º de janeiro seguinte, todo o processo foi cancelado. Alegava-se a necessidade de avaliação mais aprofundada do impacto dos investimentos sobre as finanças estaduais. Tudo teve de ser recomeçado – desde a contratação de novo órgão financiador até o lançamento de outro complicado processo de licitação, tudo isso em meio a inúmeros obstáculos judiciais.

Pois bem: diante de tanta confusão e de seguidos e incompreensíveis atrasos no cronograma de execução das obras de Piraquara II e Miringuava, encontra-se ainda muito distante a possibilidade de solução do problema. A previsão mais otimista é de que somente em 2008 haverá chance de as obras ficarem prontas – tempo suficiente para que a população da RMC cresça em mais 300 mil consumidores de água e novamente nos vejamos no limite da normalidade do abastecimento.

Esta é a história do racionamento que a população começa a sofrer depois de amanhã, sem saber por quanto tempo terá de aturá-lo. Racionamento que, como se vê, tem grandes chances de ser repetido em 2007, 2008...

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