O presidente norte-americano, Donald Trump, iniciou seu mandato com uma medida protecionista, impondo tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio, provenientes de qualquer lugar do mundo, e que começarão a valer em 12 de março. Este intervalo de mais de um mês é suficiente para que o Brasil, o segundo maior exportador de aço para os EUA, consiga negociar com os norte-americanos, entender suas intenções e chegar a um acordo benéfico para todos. Mas, para isso, será preciso deixar a tarefa com os profissionais, e não com os bravateiros.
Apesar das alegações de Trump a respeito de o Brasil estar importando mais aço da China enquanto direciona a produção nacional para os Estados Unidos, o fato é que não somos nós o adversário que o presidente norte-americano quer atingir. Os EUA já são superavitários no comércio com o Brasil de setor de aço, carvão e máquinas; além disso, a indústria norte-americana conta com o aço brasileiro, já que o país é o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, atrás apenas do Canadá. É bastante evidente que as tarifas, se aplicadas integralmente, encarecerão produtos norte-americanos dependentes do aço estrangeiro, como automóveis e eletrodomésticos, criando pressão inflacionária e colocando a população e setores da indústria local em rota de colisão com o presidente.
Guerras comerciais não são benéficas para nenhum dos envolvidos e, por isso, o melhor a fazer agora é negociar com pragmatismo
Nisso a experiência recente pode apontar o caminho. Em 2018, no primeiro mandato de Trump, o norte-americano também impôs tarifas de 25% para as importações de aço e 10% para as de alumínio. Duas semanas depois, veio o primeiro recuo de Washington, que suspendeu as tarifas desses produtos oriundos da União Europeia e de alguns outros países, incluindo o Brasil; por fim, chegou-se a um sistema de cotas em que determinada quantidade poderia ser exportada pelo Brasil sem estar sujeita a impostos. Também naquela ocasião houve insatisfação da indústria norte-americana, em parte porque as siderúrgicas locais aproveitaram a ocasião para elevar a produção, mas subir ainda mais os seus preços.
Quem tem esse episódio em mente está apostando no pragmatismo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez declarações cautelosas; o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, disse que “o caminho é diálogo, nós vamos procurar o governo norte-americano para buscar a melhor solução”; antes disso, outro ministro – Alexandre Padilha, das Relações Institucionais – já havia afirmado que “o Brasil não estimula e não entrará em nenhuma guerra comercial. Sempre seremos favoráveis a que se fortaleça, cada vez mais, o livre comércio”. Se de fato as negociações ficarem a cargo do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as chances de uma solução negociada são maiores.
No entanto, o petismo tem sua boa dose de aloprados, que, em nome de um antiamericanismo de DCE, adorariam ver o circo pegar fogo. Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara, sugeriu uma taxação das big techs como forma de retaliação. E o próprio Lula, apesar de estar em silêncio sobre o tema, já levantou a hipótese de responder a uma eventual taxação de exportações brasileiras usando o princípio da reciprocidade. Partir para o “olho por olho”, no entanto, esbarra em dois problemas: o Brasil, já sendo uma economia bastante fechada, não tem muita margem para elevar ainda mais suas tarifas de importação; além disso, o encarecimento de produtos importados ou que dependem de insumos vindos dos EUA colocaria ainda mais pressão sobre uma inflação que Lula já demonstrou não saber controlar.
Trump já mostrou em outras ocasiões sua propensão a criar situações de potencial conflito apenas para arrancar concessões, tanto de aliados quanto de adversários. No entanto, ele é tão imprevisível que não há como saber se este é o caso agora. De certo, a essa altura, há apenas o fato de que guerras comerciais não são benéficas para nenhum dos envolvidos e, por isso, o melhor a fazer agora é negociar com pragmatismo, sabendo salvaguardar o interesse nacional sem arroubos nacionalistas que em nada beneficiam a posição brasileira no comércio exterior.