As declarações de um chefe de governo devem obedecer a determinados princípios típicos das responsabilidades de um líder. Um presidente da República não pode espalhar o pânico nem criar um ambiente de pessimismo e desesperança. Talvez tenha sido por isso que o presidente Lula deu várias declarações otimistas sobre o Brasil, desde que a crise financeira nascida nos Estados Unidos começou a apavorar o mundo. Primeiro, o chefe da nação afirmou que, por aqui, a crise seria coisa pequena. Depois, quando a "marola" cresceu, o presidente passou a declarar que o Brasil estava melhor do que as nações desenvolvidas para enfrentar a crise. Na sequência, Lula resolveu passar pitos nos Estados Unidos e nos países europeus pela tragédia que arrumaram para o mundo.

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Nada disso seria problemático se o presidente estivesse apenas exercendo o seu papel de líder motivador e divulgador da esperança, mesmo porque as suas críticas estão corretas em vários aspectos. A gravidade da situação, porém, começa no momento em que o governo passa a agir acreditando em um otimismo quase ingênuo, gastando e gerindo as finanças públicas como se o que o governo diz representasse a expressão da verdade. O Brasil tem sim uma série de vantagens em relação a outros países, como é o caso da pequena dívida externa, das expressivas reservas cambiais, da baixa alavancagem do sistema bancário nacional, da solidez do sistema de crédito e da inflação sob controle. Todavia, o país apresenta uma fragilidade perigosíssima, cujos efeitos serão danosos caso o Produto Interno Bruto (PIB) de 2009 não cresça e a arrecadação tributária fique longe das estimativas otimistas do governo.

Essa fragilidade reside no descontrole nos gastos públicos de custeio (pessoal, material e despesas administrativas), os quais aumentaram de forma irresponsável em função do inchaço do quadro de pessoal e da gastança que o governo vem demonstrando nos últimos anos. Uma despesa que vem se reduzindo são os pagamentos de juros da dívida pública, em razão da queda na taxa básica de juros. Essa vantagem poderia ser utilizada para diminuir o déficit público final ou ampliar os investimentos em infraestrutura, casos em que os resultados para a economia seriam bons. O problema é que o governo não reduziu o déficit público nem aumentou os investimentos dos quais o país tanto necessita, e a vantagem com a diminuição dos juros vem sendo torrada em despesas de pessoal, criando uma camisa de força da qual o Tesouro Nacional não consegue sair, pois, despesa com folha de salários é coisa que, uma vez aumentada, ninguém mais consegue reduzir.

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Diante da queda na arrecadação tributária que ocorrerá pelo menor crescimento do PIB, as contas públicas poderão ficar no pior dos mundos, ou seja, déficit crescendo e investimentos estatais se reduzindo. As projeções de arrecadação que o governo enviou ao Congresso Nacional revelavam que faltou realismo, como se todos na máquina federal passassem a acreditar nas declarações otimistas, quase ingênuas, do presidente da República. A hora da verdade chegou: o governo está refazendo as estimativas de receitas, as previsões não são boas e o estouro da gastança já se instalou em definitivo no governo. Resta torcer para que a deterioração das contas públicas não seja o calcanhar de Aquiles a jogar por terra determinadas vantagens que o país apresenta.