Os rumores de que o presidente interino Michel Temer já avalia as condições para disputar a reeleição acenderam um sinal de alerta sobre suas reais intenções no cargo. A informação, vinda do alto escalão e reforçada durante o fim de semana por uma declaração do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), é o contrário do que o país precisa: um governo interessado apenas na reconstrução da governabilidade e na estabilidade econômica e não em sua perpetuação no poder.
No último fim de semana, Temer teve de recorrer a uma nota oficial para reiterar que sua intenção é não concorrer à reeleição. A nota foi curta e lacônica, sem a veemência que se espera de um político que diz querer que o país seja pacificado.
A reeleição é o caminho errado para Temer. A situação do país é delicada e não há como desviar de reformas impreteríveis.
A impressão que fica é a de um balão de ensaio lançado por aliados para testar a ideia da reeleição de um governo que por ora é apenas interino. Estratégia que é frequentemente usada no mundo político e que combina com o que parecem ser vontades conflitantes de Temer. Ao mesmo tempo em que diz querer ser um estadista, deixa escapar sinais de que não descarta a reeleição – logo depois de assumir o cargo, por exemplo, ele disse em uma entrevista que a reeleição “de repente pode acontecer”. Um deslize que não se esperaria de um político tão experiente.
A opção pela reeleição, neste momento, não combina com a ambição de estadista. a reeleição é o caminho errado para Temer. A situação do país é delicada e não há como desviar de reformas impreteríveis.Flertar com a continuidade no poder significa abrir mão dessa liberdade em troca de medidas que elevem a popularidade, essencial para o sucesso nas urnas.
Por isso, a reeleição é o caminho errado para Temer. A situação do país é delicada e não há como desviar de reformas impreteríveis. O Brasil precisa de um novo modelo orçamentário, um conserto bem feito das regras previdenciárias e ajustes que o tornem mais produtivo. Nada disso se encaixa no calendário eleitoral, que sempre sacrifica reformas de longo prazo em troca de remendos populistas.
Temer tem de cumprir o papel de recuperar a vida política brasileira. Isso passa por apoiar de forma incondicional o combate à corrupção e pela construção de alianças baseadas nos interesses do país, e não nos apoios eleitorais. Só assim ele faria uma política melhor do que a sociedade viu nos últimos anos, quando o projeto de poder do PT tomou conta do Palácio do Planalto.
Sem pensar em reeleição, Temer também teria a chance de colocar na agenda uma reforma política real, que não poderia ser questionada por ter sido pensada em interesse da própria campanha. O assunto, importantíssimo para que a política volte a conversar com a sociedade, ainda não entrou da maneira adequada na agenda do governo interino e teria ainda menos chances de progredir se a reeleição fosse seu principal foco.
Dentro de algumas semanas, se o Senado confirmar o impeachment contra Dilma Rousseff, Temer terá mais uma chance de mostrar o que deseja entregar até 2018. Se deixar a porta da reeleição aberta, seja por intenções reais ou pela vaidade de ver seu nome alçado candidato, estará reduzindo suas chances de ter um papel de destaque na história do país.
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