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A negativa do registro de mais de 500 candidatos a vagas de senador, deputado federal e estadual, por TREs de vários estados, abre uma nova postura da Justiça Eleitoral, de avaliar a "conduta moral" de postulantes a cargos públicos envolvidos em denúncias nos escândalos do mensalão, sanguessugas e outros. Para o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o posicionamento das cortes regionais é positivo, respondendo ao clamor público contra a corrupção; sendo de esperar que a depuração prévia facilitará a seleção de mandatários qualificados segundo princípios republicanos, mas essa judicialização da política representa o clímax da crise de credibilidade que atingiu o Congresso.

Um experimentado parlamentar do Paraná reconheceu que – segundo indicam pesquisas realizadas inclusive por esta Gazeta do Povo – "há uma tempestade de indignação diante do Congresso mais enxovalhado da História do país", mas alerta para dois aspectos: primeiro, a corrupção foi levada a efeito por congressistas, mas teve origem no Poder Executivo; segundo, embora desencantado, cabe ao eleitor separar o joio do trigo, distinguindo os políticos sérios daqueles que ostentaram "conduta incompatível com a função pública", no jargão das cortes eleitorais.

No limite, a situação representa um período de transição na História republicana, como em 1930/34, 1961/64 e 1985/88, abrindo uma nova era histórica. Mas ela é preocupante por coroar o enfraquecimento do Congresso, instância máxima do Poder Legislativo dentro do modelo tripartite de ramos do poder político e, nessa dimensão, compromete as instituições republicanas. Assim, o exame da agenda parlamentar mostra que o Congresso vem paulatinamente se demitindo de sua função de centralização do processo legislativo; substituído por atos de iniciativa do ramo executivo, que multiplica a edição de medidas provisórias com força de lei e vigência imediata sobre assuntos de relevância para a cidadania, num desequilíbrio que afeta o pluralismo democrático.

De igual forma, o registro eleitoral adotado nas democracias contemporâneas não comportava, no seu início, mais do que o controle formal do processo de inscrição dos eleitores e candidatos e apuração dos votos por eles deduzidos. Agora, as decisões desta semana – conquanto respondam a uma pressão da opinião geral – ingressam na essência da formação do poder político, ao discriminar quem pode e não pode ser candidato; alargando o conceito de democracia tutelada a que se refere o professor Giovani Sartori.

Tais aspectos, mais o desequilibrado e incompleto modelo de reeleição que mescla as figuras dos governantes com a de candidatos à recondução, sinalizam um sistema político vencido, fazendo urgir a busca de seu aperfeiçoamento. Vale para o caso a lição de Montesquieu, conforme citado pelo ministro Márcio Thomaz Bastos: "Não se constrói uma sociedade baseada na virtude dos homens, mas na solidez das instituições".

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