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Alguns hasteamentos de bandeiras se tornaram icônicos. Em 1945, Joe Rosenthal imortalizou a imagem de soldados norte-americanos levando a bandeira de seu país ao alto do Monte Suribachi, na ilha japonesa de Iwo Jima, e Yevgeny Khaldei fotografou soldados colocando uma bandeira da União Soviética no alto do Reichstag, o parlamento da Alemanha nazista. Na noite de 25 de dezembro de 1991, a mesma bandeira soviética desceu do Kremlin pela última vez para dar lugar a uma bandeira tricolor russa – no dia seguinte, a União Soviética foi extinta. Em algumas semanas, outros hasteamentos devem entrar para a história: ainda em julho a bandeira norte-americana vai tremular em Havana e a cubana, em Washington, na reabertura de embaixadas que marca o restabelecimento de relações diplomáticas entre os rivais da Guerra Fria.

Que ninguém se engane: o regime cubano continua sendo uma cruel ditadura

Este só não pode ser considerado o ponto culminante da reaproximação entre os Estados Unidos e a ditadura cubana porque o embargo econômico ainda persiste – eliminá-lo é tarefa do Congresso norte-americano, e não de Barack Obama. Mesmo assim, é uma das etapas mais significativas de um processo costurado pela diplomacia canadense e pelo papa Francisco. Em dezembro do ano passado, os dois países anunciaram os primeiros acordos; em abril, Obama e Raúl Castro se encontraram na Cúpula das Américas, na Cidade do México – o primeiro aperto de mão entre os chefes de Estado cubano e norte-americano em cinco décadas.

Mas que ninguém se engane: o regime cubano continua sendo uma cruel ditadura, violadora contumaz dos direitos humanos, que mantém presos políticos, persegue a dissidência e deixa seu povo na pobreza enquanto a cúpula do regime refestela-se desfrutando do bom e do melhor, como demonstrou o escândalo recente em que um filho de Fidel Castro foi flagrado em um resort de luxo na Turquia. Sem a ajuda econômica da União Soviética, extinta em 1991, e da Venezuela, afundada no caos econômico, Cuba consegue dinheiro estrangeiro por meio do turismo e da exportação de mão de obra, como os médicos enviados ao Brasil em condições que desrespeitam a nossa legislação trabalhista.

Trazer de volta a democracia e o respeito às liberdades democráticas em Cuba precisa continuar a ser uma prioridade. A julgar pelo desenrolar das negociações entre Washington e Havana e pela assimetria entre as concessões feitas por um e por outro lado, não é tão simples dizer se os objetivos norte-americanos efetivamente mudaram para uma atitude tolerante para com os ditadores Castro, ou se houve apenas uma alteração de estratégia para atingir o mesmo objetivo de sempre. Se por um lado há casos que demonstram a efetividade de sanções (como a África do Sul da época do apartheid), por outro o embargo norte-americano se mostrou ineficaz para conseguir as mudanças democráticas. O resto do mundo não seguiu os Estados Unidos, o que seria uma condição necessária para pressionar Cuba. E tanto os Castro quanto seus apoiadores, inclusive no Brasil, passaram a usar o embargo como desculpa para os problemas econômicos, em uma contradição flagrante: socialistas que abominam o livre mercado de repente se mostram sem o menor escrúpulo de criticar uma restrição a esse mesmo livre mercado.

Defensores do embargo podem apontar para a China, onde a abertura econômica ainda não trouxe a mudança política. Mas também lá trata-se de um processo em andamento; muitas regiões ainda estão privadas da prosperidade econômica que faria os cidadãos, mais tranquilos quanto ao próprio bolso, prestarem atenção no déficit democrático e demandarem um novo regime político. Que as nações oprimidas por ditaduras como a cubana e chinesa possam, em breve, experimentar a liberdade.

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