A demissão de Antônio Palocci do cargo de ministro da Fazenda não foi motivo de surpresa. Sem ter como desvencilhar-se da lastimável cadeia de acontecimentos nas quais esteve enredado como principal protagonista, já não lhe restava alternativa senão a de abandonar o cargo. Foi o que fez no fim da tarde de ontem, oficializando ao presidente Lula seu pedido de afastamento. Para seu lugar foi imediatamente indicado o economista Guido Mantega, que ocupava a presidência do BNDES.

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A saída de Palocci, no entanto, não significa o fim da crise em que o país está envolvido já há tantos meses. É apenas mais um episódio, talvez o mais grave até agora, é verdade, da interminável seqüência de escândalos que abala as instituições brasileiras desde que, em maio do ano passado, o então deputado Roberto Jefferson escancarou para a nação a existência de métodos espúrios de cooptação política de parlamentares, de recursos clandestinos nas campanhas políticas e de saques criminosos aos cofres públicos. O último elo da cadeia de escândalos acabou por atingir e sufocar de vez o ministro – o terceiro que cai neste período.

A crise não termina agora porque há ainda muitos fatos a serem definitivamente esclarecidos e para os quais a sociedade brasileira exige resposta compatível com a gravidade dos fatos que a determinaram. Ou se purga logo o lodaçal de pecados mortais que afoga as instituições, ou continuaremos assistindo à triste agonia dos valores que devem necessariamente permear a vida pública.

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A demissão de ministros não deve ser encarada como punição suficiente. É da natureza do regime que ministros sejam substituídos, quer por necessidade de ajustes políticos, quer por inépcia, quer por prevaricação. Neste último caso, porém, se crime houve, o que se exige é que seja imediatamente tipificada a culpa e os responsáveis devidamente enquadrados nas cominações da lei. Portanto, o que se espera do presidente é a iniciativa de esclarecer os fatos que ocorrem à sua volta até as últimas conseqüências. Já não deve prevalecer a atitude autista de simplesmente acompanhar os fatos – atitude, esta sim, a principal responsável pelo arrastar interminável da crise que nos assola.

Palocci sai porque se desconfia que ele – logo ele que, como ministro da Fazenda, deveria ser o maior guardião da inviolabilidade do sigilo bancário – teria sido o mentor e beneficiário da violação da conta do caseiro Francenildo Costa. Foi este jovem piauiense que jurou na CPI dos Bingos ter testemunhado a assiduidade com que o ministro freqüentava a mansão do Lago Sul de Brasília onde se supõe eram planejadas maracutaias com dinheiro público.

Violar a privacidade e participar de negociatas são crimes que não se punem com simples demissão. A Constituição e os códigos prevêem penas reais para quem os comete. Se restar provada a participação de Palocci na execução intelectual ou material desses delitos, é importante que Lula não a ignore nem procure acobertá-la, como sistematicamente fez em outros episódios. Esta é a única forma de ser pôr cobro à crise.

Toda a crise – e não apenas o triste episódio que pôs fim à era Palocci – só se resolve com o esforço sincero no sentido de se resgatar a ética e a moralidade.