Na prática, o que a punição à Fanáticos faz é manter afastados dos estádios meros pedaços de pano. Punir individualmente quem causa tumultos é a única maneira eficaz de conter os brigões

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Em uma tentativa de colocar ordem nas arquibancadas dos estádios do Paraná, o Ministério Público puniu a torcida organizada Os Fanáticos, do Atlético Paranaense, e proibiu a facção de comparecer aos jogos do time até 10 de junho de 2014. Louve-se a iniciativa do MP de agir para conter a selvageria nos estádios, mas a maneira encontrada, um recurso à responsabilização coletiva, está muito longe daquilo que verdadeiramente tornaria as partidas de futebol um ambiente mais seguro: a responsabilização individual.

Os próprios membros da Fanáticos já anteciparam, na edição de ontem da Gazeta do Povo, que a punição fará pouquíssima diferença. "Se proibirem a torcida, se extinguirem a torcida, não dá nada. Sou sócio do clube, vou lá ficar no meu lugar e vou cantar para o meu time", disse o ex-vereador Julião Sobota, que voltará ao comando da Fanáticos no ano que vem. Assim como ele, vários outros integrantes da organizada seguirão comparecendo aos jogos, seja na qualidade de sócios-torcedores, seja comprando ingressos avulsos. Claro que entre essas pessoas há muita gente preocupada única e exclusivamente em incentivar seu time e que abomina a violência, mas também os brigões (inclusive os que participaram da barbárie de domingo passado, em Joinville) terão a possibilidade de frequentar as partidas e causar futuras confusões.

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E, ainda que a punição efetivamente impedisse os membros da Fanáticos de comparecer às partidas, mesmo assim não haveria garantia nenhuma de que a violência relacionada ao futebol estaria contida. Como lembramos no editorial de segunda-feira, cada vez mais as organizadas estão se enfrentando (e até marcando confrontos pela internet) em locais distantes dos estádios. Recorde-se, por exemplo, a briga entre corintianos e palmeirenses em uma estação de metrô paulistana em 2005, que deixou um morto e cinco feridos. O torcedor baleado e morto na ocasião era integrante da Mancha Alviverde, facção que foi criada após a dissolução da Mancha Verde, por ordem judicial, em 1995. Os torcedores do grupo extinto simplesmente se reorganizaram em uma nova facção, dois anos depois, o que também mostra como acabam inócuas as medidas direcionadas aos grupos, e não às pessoas.

Novamente bate-se na mesma tecla: é a impunidade que alimenta a irracionalidade nos estádios. Como também dissemos na segunda-feira, é inaceitável que, na época das redes sociais e das imagens de alta resolução (e a briga em Joinville foi filmada e fotografada à exaustão), os participantes da selvageria não sejam identificados pelas forças de segurança. Logo após a briga, apenas três vascaínos foram presos. A Polícia Civil catarinense criou uma conta de e-mail para receber denúncias que permitam identificar mais brigões, e o delegado Dirceu Silveira Júnior disse à imprensa que, até ontem, 20 torcedores do Vasco e do Atlético envolvidos na briga já tinham sido identificados.

A responsabilização individual é a única maneira eficaz de manter os brigões afastados dos estádios. É preciso identificar e punir os bárbaros com base no Estatuto do Torcedor, não apenas impedindo que frequentem as partidas, mas também ordenando que se apresentem à Justiça ou à polícia nos dias de jogos. Quanto aos responsáveis por agressões graves nos estádios ou por brigas longe deles, que sejam devidamente punidos de acordo com o que prevê o Código Penal.

Na prática, o que a punição à Fanáticos faz é manter afastados dos estádios meros pedaços de pano – faixas, bandeiras e camisetas que remetam à organizada. E, como bem sabemos, pedaços de pano não espancam pessoas. Pessoas é que espancam outras pessoas. E essas seguem impunes, com raras exceções. Quando se passar a levar a sério a necessidade de punir cada um dos brigões, as torcidas organizadas, purgadas dos maus elementos, poderão deixar de ser um fator que afasta dos estádios os demais torcedores e suas famílias.

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