Multiplicam-se os alertas sobre o efeito estufa. Entre os mais recentes, está o estudo Aquecimento Global e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira, dos pesquisadores Hilton Silveira Pinto, da Unicamp, e Eduardo Delgado Assad, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O trabalho defende a adoção de "ações urgentes" para que o país possa evitar que as mudanças climáticas afetem a agricultura "de forma significativa". Caso nada seja feito com a rapidez que a gravidade da situação determina, chegará a 95% a probabilidade dessas transformações. As medidas indicadas pelos técnicos vão da arborização dos cafezais, mais o plantio direto, à integração da pastagem com a lavoura. Por esse caminho, além de seqüestrar carbono da atmosfera, o país asseguraria uma proteção ao desenvolvimento agrícola. Quanto à ambicionada produção de biocombustíveis, será preciso respeitar todas as regras do zoneamento da cana-de-açúcar. E a produção de alimentos básicos, no futuro, vai se tornar questão de política pública, já que as emissões de gás carbônico (CO2) pela agricultura, somadas às do desmatamento de terras para cultivo, correspondem a até 32% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa, de acordo com relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).

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O Brasil ocupa hoje a 4ª posição mundial na produção de gases do efeito estufa. Caso contenha o desmatamento, principalmente na imensidão amazônica, poderá cair da quarta colocação no ranking mundial para a 18ª posição.

Nessa empreitada, encaixa-se perfeitamente no quadro das preocupações o alerta do antropólogo Emílio Moran, diretor do Centro Antropológico para Treinamento e Pesquisa em Mudanças Ambientais Globais da Universidade de Indiana, feito na programação cultural da Exposição Revolução Genômica, em São Paulo. Para que se alcancem saídas eficazes do ponto de vista ambiental, econômico e social, será preciso primeiro compreender como o ser humano se relaciona com a natureza. Falando sobre a expansão internacional da antropologia ambiental e as experiências na Amazônia, ressaltou que esse entendimento "depende da integração do conhecimento das ciências naturais com o das ciências sociais, de modo semelhante ao que ocorre na chamada antropologia ambiental ou ecologia humana, que estuda a interação entre as populações humanas e o ambiente físico".

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A antropologia deve também se debruçar sobre o tema meio ambiente. A falta de reconhecimento à contribuição da antropologia para compreender questões ambientais, segundo Moran, não é um problema exclusivamente brasileiro. Na Europa e nos EUA, a antropologia ambiental é reconhecida como disciplina e ensinada nas universidades, mas há um porém. No caso norte-americano, citou o desequilíbrio entre ciências naturais e ciências sociais, no caso do volume de recursos que as duas áreas recebem para pesquisar mudanças globais e ambientais: as ciências naturais levam 97% das verbas, cabendo às ciências sociais míseros 3%. Em sua opinião, embora a diferença seja em parte justificada pelo emprego de tecnologias mais caras pelas ciências naturais, deve haver "um intenso esforço de integração entre essas áreas, caso se deseje compreender em profundidade as razões que levaram à intensa alteração do ambiente". O fundamental, no entanto, não são as disciplinas, mas a formulação da pergunta científica a responder, que deve ser feita em conjunto por pesquisadores das ciências naturais e sociais, como destacou na palestra sobre os avanços da antropologia ambiental.