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Editorial

Risco cambial e o PAC

Apesar das expectativas que cercaram o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a tramitação desse conjunto de medidas visando uma retomada mais vigorosa da economia vem encontrando resistência no Congresso, enquanto os agentes econômicos não se convenceram de sua eficácia. Embora o cenário global mantenha aberta a janela de oportunidades – com sinais positivos na economia dos Estados Unidos – dificilmente o PIB brasileiro dará um salto a partir dos 2,8% registrados em 2006.

No ano passado, apesar da expansão dos gastos públicos, o conjunto da economia não exibiu comportamento mais favorável devido à persistência de fatores limitantes, entre eles a distorção cambial acarretada pela política monetária. Tanto que as vendas industriais subiram apenas 1,7% -– o pior resultado desde 2003 – com prejuízo maior para setores intensivos em mão-de-obra (calçados, móveis, vestuário etc.). O problema do câmbio atingiu a indústria de forma severa, afetando sua capacidade para exportar e roubando espaço no mercado interno via elevação do ritmo de importações. Com isso foram perdidos 250 mil empregos e o PIB caiu em quase 2% – segundo um órgão oficial, o IBGE.

Na ponta das exportações a elevação dos preços de commodities básicas e industriais (grãos, madeira e minério de ferro, entre outros), manteve o fluxo de divisas, mas à custa de uma desarticulação da cadeia produtiva acusada inclusive pelo professor Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos conselheiros econômicos do presidente Lula. Na mesma linha, o também professor Luciano Coutinho lamenta que essa desindustrialização relativa bloqueie o adensamento da capacidade produtiva, levando o país a regredir no valor agregado global.

Esse equívoco da atual diretriz tornou o país incapaz de crescimento da renda interna via integração ao comércio internacional – como souberam fazer os asiáticos e outros emergentes. O governador de São Paulo (e economista) José Serra se juntou ao coro dos opositores, criticando duramente o Banco Central: "A taxa brasileira de juros continua sendo a mais alta do mundo em termos reais; apesar da economia semi-estagnada, com déficit fiscal moderado para os padrões internacionais e inflação baixa".

Para Serra o paradoxo é que, "no passado o estrangulamento externo trouxe vários períodos de estagnação fazendo o dólar disparar; agora, a melhora nos termos de troca, com elevação no preço dos produtos que o Brasil exporta, é transformada em maldição". O professor Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, concorda que a situação não é sustentável: os juros brasileiros custam três vezes mais do que nos Estados Unidos.

Por isso a queda livre do dólar anula notícias positivas como a sinalização pela agência de classificação de risco Fitch, de que poderá elevar a classificação do Brasil, aproximando-a do nível positivo de "grau de investimento". Essa ciranda cambial incomoda até ministros e líderes do PT, reduzindo o impacto que o PAC poderia trazer para um esforço sustentável de crescimento.

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