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A retomada da propaganda eletrônica reaqueceu a campanha eleitoral, cujo término dentro de duas semanas comportará a escolha definitiva entre os dois candidatos majoritários – a presidente e a governador – que passaram para o segundo turno. A partir de agora os postulantes tendem a apresentar pontos mais focalizados de seus programas; porém dosados com aspectos virtuais, dentro da lógica predominante na cultura brasileira.

Isso porque, embora alguns observadores, como o economista Paulo Nogueira Batista Jr., peçam um enfoque substantivo nos programas televisivos e nos próximos debates entre presidenciáveis, a proposição não encontra eco nos consultores que investigam o estado de espírito da opinião. Assim, o professor Antônio Lavareda explica que "se um candidato descer a detalhes técnicos, o eleitor desliga o aparelho". O debate porém tem perspectiva própria, servindo para avaliação direta do homem público que pleiteia a delegação do voto.

No primeiro embate, por exemplo, embora o presidente Lula tenha revelado incômodo na convivência com o contraditório, o ex-governador Alckmin esteve dois tons acima do perfil ideal para candidatos presidenciais competitivos. Essa distonia pode ter afetado seu desempenho eleitoral nas pesquisas que se seguiram, numa situação de ataques e contra-ataques em que se perdeu algo da liturgia atribuída à função presidencial.

Porém tal constrangimento é ensejado pelo fato da reeleição, cujo arranjo imperfeito permite ao governante disputar a recondução com permanência no cargo. Confundir numa só pessoa os papéis de presidente e de candidato, "foi a pior idéia que se teve no Brasil", avalia a colunista Míriam Leitão. O ideal seria que os competidores se comportassem sob o figurino recortado por moralistas empenhados em promover pessoas e projetos ancorados na busca do bem geral da sociedade.

Nessa dimensão cumpre ainda resgatar a tradição igualitária dos fundadores da forma de governo assentada na República, que ao despojarem o governante do ritual majestático nivelaram todas as pessoas como titulares da mesma e única dignidade – a da cidadania; ideal que ainda não vingou por inteiro no Brasil, herdeiro da cultura patrimonialista ibérica.

Outra circunstância que ganhou virulência neste turno é o boato, com os petistas espalhando que Alckmin, se eleito, promoveria um violento arrocho fiscal, com retomada selvagem das privatizações a atingir ícones como a Petrobrás e o Banco do Brasil. Os desmentidos veementes podem não bastar, cabendo recorrer à lição de especialistas para a busca de antídotos eficazes.

Enfim, são aspectos de uma escolha decisiva em que será chamado a liderar a nação ou o estado o candidato mais competente ou que exibir mais paixão; num confronto aceitável pela democracia porque – lembrava Hannah Arendt – "a política baseia-se no fato da pluralidade dos homens, onde a liberdade e espontaneidade dos diferentes seres humanos são pressupostos necessários".

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