Faltando quase um ano para as eleições municipais, os brasileiros começam a mostrar uma certa revolta contra os vícios da política brasileira, reivindicando mais moralidade na vida pública. Manifestações como as que estamos vendo acontecer no país desde o 7 de Setembro, e que devem se repetir em 12 de outubro, não eram previstas no cenário político brasileiro, principalmente em ano não eleitoral e no qual a economia apresenta bons resultados. Esses protestos são indícios de se estar iniciando uma transformação cultural para a qual se espera continuidade. No ano eleitoral que se aproxima, seria importante que essa consciência contra a corrupção seja estendida para a escolha eleitoral.
No dia 7 de outubro termina o prazo para filiações dos cidadãos que pretendem se candidatar em 2012, fechando um ciclo do processo eleitoral. É a data-limite também para troca de partidos. A partir dessa data, o cenário das eleições passará a ficar mais definido. E as articulações partidárias devem começar a se intensificar, até junho do próximo ano, quando ocorrerão as convenções partidárias.
Com a mesma intensidade na qual os políticos vão organizando suas chapas de vereadores e negociando alianças para a disputa das prefeituras, a população precisará se dedicar a conhecer o passado e as propostas dos candidatos e partidos. O eco das manifestações de hoje precisa se prolongar no tempo para que resulte em transformação efetiva no país, no que se refere à representatividade. Portanto, essa força que vem se apresentando por meio dos protestos contra a corrupção poderá promover a renovação dos quadros partidários, afastando diversos políticos atuais da vida pública, e exercendo o voto de forma consciente.
As marchas contra a corrupção, que vão ganhando adesões da sociedade, independentemente da atuação dos partidos, podem ser um importante veículo para um projeto de mudança pautado pelos cidadãos. Isso não quer dizer que se pode prescindir de representantes eleitos. Mas, sim, que a fiscalização da conduta deles deve ser constante, para que cumpram o seu mandato tal como se espera em uma República. Nesse sentido, os protestos podem disseminar a mensagem da responsabilidade que a população terá no próximo ano, ao escolher seus representantes. Mas essa responsabilidade não termina nas urnas. É imprescindível que, após as eleições, a população permaneça vigilante sobre a conduta dos eleitos. Do contrário, os esforços empreendidos até o momento terão eficácia reduzida.
Os protestos contra a corrupção e em favor de medidas moralizadoras da política estão entre as poucas boas notícias no quadro institucional da atualidade. Entretanto, as marchas são apenas um dos componentes necessários para tornar as nossas instituições mais transparentes e republicanas. É necessário que a experiência decorrente delas conduza a novos comportamentos políticos, melhorando a qualidade do voto e a fiscalização dos políticos pelos cidadãos. Não aproveitar essa janela de oportunidade que se avizinha seria um desperdício.