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Editorial

Salários, dívidas e inflação

As notícias econômicas de fim de ano trouxeram uma informação que bate direto no padrão de consumo das pessoas. Trata-se da elevação da taxa de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que acumulou alta de 5,25% em 2010, contra 4,31% em 2009, superando a meta para este ano, que era de 4,5%. Mas não é apenas esse índice que acendeu a luz vermelha no governo e começou a preocupar a população. O problema está, sobretudo, na tendência de alta da inflação sinalizada pela taxa superior à meta, alertando que, se não forem tomadas medidas restritivas, os preços podem continuar subindo em 2011 a taxas superiores às verificadas no ano que se encerra.

Como a inflação reduz o poder de compra da renda do trabalho, o governo sabe que, ao verem seus salários perdendo poder de compra e o seu padrão de vida piorando, as pessoas começam a negar apoio aos governantes, cujos índices de popularidade acabam despencando inevitavelmente. A inflação é o mais eficiente mutilador de confiança na economia e no governo, coisa que a presidente Dilma Rousseff certamente vai querer evitar a todo custo.

Prova disso foram as declarações feitas na segunda-feira pelo novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que defendeu a redução da meta de inflação do Brasil no futuro. De acordo com ele, a nova meta deveria estar em níveis semelhantes aos observados nas principais economias emergentes – perto de 3%, segundo o próprio Tombini. Para se chegar a isso, afirmou que a política macroeconômica, combinada ao contínuo aperfeiçoamento do marco regulatório do país, criará as condições necessárias para a redução da meta inflacionária.

De forma geral, é possível afirmar que dois dos mais importantes fatores causadores da elevação dos preços foram os gastos exagerados do governo e o aumento no consumo das pessoas. Este último foi o responsável pelo aumento do endividamento pessoal nos últimos anos, conforme já foi destacado em várias reportagens da Gazeta do Povo e em editoriais neste espaço.

Embora o nível de endividamento das pessoas tenha sido, historicamente, bastante baixo e, por isso, é sabido que havia espaço para aumento dos empréstimos aos consumidores, as dívidas contraídas pelas pessoas físicas nos últimos tempos são preocupantes, entre outros motivos, por terem sido contratadas com taxas de juros muito altas, por estarem respaldadas em elevado índice de emprego e por terem superado os limites considerados razoáveis para o nível de renda dos brasileiros. Caso sobrevenha algum sobressalto na economia e a renda da população caia, em função de aumento do desemprego ou pelo aumento da taxa de inflação, as consequências serão muito ruins.

Alguns resultados desse tipo de situação são conhecidos: elevação da inadimplência, restrição no crédito bancário para consumo, elevação da taxa de juros e redução nas compras. Considerando a importância da demanda dos consumidores para o crescimento do Produto Interno Bruto, um cenário com essa configuração acabaria ajudando a esfriar a economia. Tudo isso, aliado ao fato de que o combate à inflação acaba obrigando que as pessoas, as empresas e os governos apertem os cintos e reduzam seus gastos, poderá gerar um 2011 de desaceleração do crescimento econômico.

As medidas geralmente adotadas pelos governantes para combater a inflação são conhecidas e incluem, pelo menos, a redução nos gastos públicos e a elevação da taxa de juros para reduzir os gastos privados, particularmente quando a inflação decorre de excesso de demanda sobre a capacidade do sistema produtivo do país. Mesmo com o risco de impopularidade, a inflação tem de ser combatida, porque ela é um mal, é uma doença que provoca diversos efeitos colaterais negativos capazes de empobrecer as pessoas e a sociedade em geral.

Saíram alguns comentários na imprensa afirmando que Alexandre Tombini poderia não querer bancar um aumento na taxa de juros logo na primeira reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) sob sua presidência. A julgar pela experiência do novo presidente do BC, por sua formação em economia, pelas declarações feitas em seu discurso de posse e por ser conhecedor dos malefícios da inflação, parece pouco provável que ele manteria a taxa de juros apenas por estar no início do seu mandato. Pelo contrário. Se a inflação seguir ameaçando, é bem provável que o BC eleve sim a taxa de juros, inclusive para sinalizar que o BC e o sr. Tombini não irão brincar com a inflação.

Quem terá de mostrar firmeza no começo do seu governo é a presidente Dilma Rousseff, pois ela não terá como atender às pressões por aumentos salariais no setor público e não poderá abrir o cofre do Tesouro Nacional a fim de dar dinheiro para todas as demandas que vão cair sobre sua mesa. Nas suas poucas falas depois de eleita, a presidente demonstrou-se propensa a bancar uma fase de austeridade fiscal, necessária para melhorar as contas do governo e para retirar combustível da inflação. Quanto às pessoas e às famílias, o melhor que têm a fazer é zelar pelo equilíbrio das suas finanças, pois não é saudável sustentar o aquecimento do padrão de vida eternamente por meio de compras movidas a dívidas.

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