É inevitável relacionar os estudos do polonês Martin Canoy com as recentes declarações do professor Camilo Oliveira, diretor do Colégio Estadual Lúcia de Castro Bueno, em Taboão da Serra, São Paulo. Ambos puseram educadores em polvorosa.
A escola obteve a melhor nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) naquele estado, o que fez com que virasse mel para abelhas: era preciso saber seu segredo. Pois o diretor não se fez de rogado. O segredo, se é que existe, reside em não deixar que os professores participem ao léu de cursos de formação em horário de aula.
Seu parecer soa amargo como fel, um retrocesso, mas Camilo em entrevistas à imprensa justificou-se com a precisão de um anestesista. Para ele, escolas que não oferecem um mínimo de regularidade prejudicam o aprendizado. E interrupções do programa durante ausência dos docentes, ou para fazer feiras de ciência, maratonas esportivas e quetais é, a seu ver, impedir que crianças e adolescentes possam ligar lé com crê. O saldo é um desastre.
"Escola é avaliação", defende. E se não há conteúdo amarrado não tem como avaliar. No colégio de Taboão, o diretor mesmo foi à luta e analisou o nexo dos programas de ensino. Também não vacilou em cancelar aulas de informática em que não havia computadores para todos os alunos, gerando mais dispersão do que conhecimento. O resultado apareceu nos índices do Enem.
É certo que o ponto de vista de Camilo tem lacunas. Não se pode negar o bem causado pela onda de capacitação dos mestres. Mas qualquer um que tenha entrado em sala de aula e presenciado a falácia dos "discursos interrompidos" pelos próprios expedientes acadêmicos, sabe que há um fundo de verdade aí. Começa com um "aviso" no meio da aula e termina com uma palestra pouco relacionada com o item da aprendizagem, candidata a virar um recreio fora de hora. Hora do alerta.