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 | Hugo Harada/Gazeta do Povo
| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos e a possibilidade de seu governo rever os acordos comerciais internacionais, com a criação de barreiras à importação de produtos oriundos da China e alguns outros países, suscitou amplos debates mundo afora. No Brasil, várias questões foram examinadas, algumas para entender a lógica das mudanças e outras relativas aos impactos sobre a economia brasileira. Alguns acreditam que o Brasil tem muito a perder; outros creem que não haveria ganhos nem perdas; e outros mais chegam a afirmar que as medidas de Trump no comércio exterior seriam até boas para o Brasil.

A lógica do governo Trump tem como pano de fundo a ideia de que o fechamento de empresas nos Estados Unidos – como é o caso das fábricas de automóveis na cidade de Detroit – decorre dos baixos salários pagos pelos países produtores de automóveis (como Coreia do Sul e China, que pagam salários inferiores aos dos EUA) e da desvalorização do preço da moeda interna frente ao dólar por imposição do governo e não pela liberdade cambial, como é o caso da China. Por esse raciocínio, aqueles países competem com os EUA de forma desleal e Trump acena com a possibilidade de enfrentar as práticas coreanas e chinesas criando impostos na importação dos produtos originados naqueles países.

O êxito passa por mais comércio exterior, não menos

O governo norte-americano também afirma que alguns países, como é o caso do Brasil, adotam política tributária confusa, misturada com a política monetária, por meio da qual criam subsídios disfarçados, tornando o produto exportado para os EUA mais barato que o produto fabricado por empresas norte-americanas no território nacional. Um exemplo seriam as desonerações tributárias para setores selecionados feitas pela presidente Dilma Rousseff, casadas com concessões de empréstimos por bancos públicos a juros subsidiados, prática de que o BNDES é sempre acusado.

Certo ou errado, o fato é que o governo norte-americano prepara um conjunto de medidas cuja extensão e intensidade ainda são desconhecidas no Brasil, e isso afetará em alguma medida o comércio brasileiro com os EUA. O Brasil não deve temer essas alterações no comércio internacional, principalmente porque o país precisa, de qualquer maneira, ampliar suas exportações – se não por outras razões, pelo menos para gerar divisas em moeda estrangeira como meio de sustentar importações de matérias-primas industriais e, também, para dar suporte ao aumento da importação de máquinas e tecnologias geradas no exterior.

A saída para o Brasil não é restringir o comércio exterior, mas ampliar o coeficiente de importação e de exportação relacionado ao Produto Interno Bruto (PIB). O atraso da economia brasileira não será resolvido pela diminuição de seu comércio internacional, mas pelo seu contrário: fazer o PIB crescer e elevar a chamada “oferta global” de bens e serviços são objetivos que dependem do aumento do comércio exterior em alta escala. Crescimento, abertura de mercados, aumento do nível de emprego e melhoria da renda média da população são conquistas que passam por elevação significativa do estoque de capital físico do país e pela incorporação de tecnologias disponíveis no mundo.

O Brasil precisa buscar crescimento do PIB a taxas anuais superiores às taxas de crescimento da população, e precisa fazê-lo com urgência, principalmente porque a expectativa média de vida vem aumentando e a população está envelhecendo de forma acelerada, de maneira que se tornou urgente conseguir elevação da renda por habitante. O êxito passa por mais comércio exterior, não menos.

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