O Carnaval Vermelho, promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Ruais Sem-Terra (MST) e grupos assemelhados, não poupou o Paraná. Usando a antiga tática de aproveitar a distração geral com o feriado, integrantes do MST invadiram as fazendas Guairacá e Pininga, ambas na região de Londrina. O movimento alega ter se "antecipado" às negociações que são realizadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) com o objetivo de comprar as duas propriedades. Embora o Incra confirme a intenção de comprar as terras, não se pode deixar de observar o óbvio: a invasão desrespeita o direito dos atuais proprietários ao mesmo tempo em que representa pressão e interferência na negociação. Em Marilândia do Sul, também no Norte do Paraná, o atropelo da lei é ainda mais gritante: nem a reintegração de posse, cumprida há duas semanas, depois de uma primeira ocupação, foi suficiente para conter a segunda invasão.

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Situações semelhantes repetem-se em propriedades rurais Brasil afora, com maior intensidade em Pernambuco e em São Paulo, em claro desserviço àqueles que realmente dependem de um quinhão de terra para garantir uma vida digna. Uma reportagem divulgada ontem pela Gazeta do Povo revela que 5% do território do Paraná – área equivalente a nove vezes o tamanho de Curitiba – já foi destinado à reforma agrária. Fica evidente que o governo federal não está alheio ao drama social no estado. A área de assentamentos é tão grande que o Incra afirma que está difícil achar mais terras improdutivas para atender a 6 mil famílias que estariam "na fila" no Paraná. O impasse é um convite à reflexão. Há realmente tantas famílias com tradição e conhecimento de cultivo da terra à espera da reforma agrária? Ou esse número é resultado do trabalho incessante – apoiado pela ação e pela omissão dos governos – de recrutar novos militantes para as causas políticas dos movimentos que dizem defender os sem-terra? Outra resposta é urgente: com tamanha competitividade no agronegócio mundial, é justo esperar que uma família de poucos recursos consiga sobreviver depois de receber um lote de terra e um apoio inicial quase sempre insuficiente?

A truculência dos atos do MST e de suas ramificações indicam que não há abertura para um debate pautado pela justiça social e pelo respeito às leis. Sua batalha é politizada; seus métodos põem em risco a integridade daqueles que os líderes alegam proteger.

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Da escolha dos alvos, à produção de razões de ressonância social para justificar os ataques caso a caso, passando pela arregimentação e transporte de militantes, tudo é planejado com ordem e método. E os mentores parecem ter optado, recentemente, por antecipar as ações que há alguns anos ganhavam força em abril. A tendência pôde ser notada já em 2006, quando, no mês de março, um laboratório da Aracruz Celulose, no Rio Grande do Sul, foi depredado por centenas de mulheres da Via Campesina. No ano passado, uma estrada de ferro usada para o escoamento da produção da Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, foi alvo de uma ocupação de 12 horas no início do mês de março.

A ferrovia da Vale e o laboratório da Aracruz nada têm de improdutivas, mas nem por isso foram poupadas. Fica evidente que o movimento tem na causa da reforma agrária mais um pretexto que uma bandeira real. E que segue invadindo propriedades porque a punição não vem.

Por isso, embora não contenham em si uma novidade, as palavras ditas na quarta-feira pelo ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, têm grande peso. "O financiamento público de movimentos que cometem ilícito é ilegal, ilegítimo. Os movimentos sociais devem ter toda a liberdade para agir, manifestar, protestar, mas respeitando sempre o direito de outrem", afirmou ele. De fato, o governo não pode patrocinar de invasões e destruições promovidas em nome de qualquer causa. Como bem lembrou o ministro, é hora de o Ministério Público agir.